Noblat
Raras vezes se viu algo parecido em Brasília.
Salvo os senadores da chamada tropa de choque de Renan Calheiros (PMDB-AL), ninguém mais quer se associar à retumbante vitória colhida ontem por ele quando foi absolvido da acusação de quebra de decoro pelo folgado placar de 48 votos contra 29 e 3 abstenções.
Na verdade, a associação é deletéria. Cá fora, pega mal, muito mal.
Quem se absteve votou na prática para livrar Renan da cassação. Isso significa que os votos favoráveis a ele somaram 51. Sozinho, Renan vale mais do que a soma de todos os votos considerados certos pelo governo para aprovar a prorrogação da cobrança da CPMF.
O governo precisa de 49 votos em um total de 81 se não quiser perder a arrecadação anual de R$ 40 bilhões. Por ora, conta, se tanto, com 48. Empenha-se em amealhar no mínimo 51 para só depois votar a CPMF.
Renan deu-se ao luxo de não votar, tal era a segurança que tinha na vitória. Foi beneficiado pelo desempenho medíocre do seu principal acusador - Jefferson Péres (PDT-AM). Autor do parecer que recomendava a cassação de Renan, Péres pareceu conformado com a derrota anunciada.
Quem mais secundou Péres na acusação o fez quase pedindo desculpas a Renan pelo incômodo que lhe causava.
Doravante fica decretado que Renan não se associou ao usineiro João Lyra para comprar um jornal e duas emissoras de rádio em Alagoas. Como há dois meses foi decretado que ele não se valeu de um lobista de empreiteira para pagar despesas da ex-amante Mônica Veloso.
Saiu de cena o Renan enfezado, arrogante e desafiador que usou e abusou do cargo para preservar o mandato. Para efeito do público externo, entrou o Renan "Paz e Amor" Calheiros. Está destinado a ser o eleitor número 1 do seu substituto.