Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, dezembro 04, 2007

CASTIGO PRA QUEM?



por Adriana Vandoni

Alguns assuntos tenho me negado a comentar. Uns por achar descabido demais, como o terceiro mandato. Democracia pressupõe a alternância no poder, e essa tentativa de indeterminar esse tempo é um golpe e como tal deve ser tratado.

Outro assunto que resisti em comentar foi o absurdo da garota presa no Pará em uma cela com vinte homens, onde ela foi obrigada a manter relações sexuais em troca de comida. Depois de vir à tona essa denúncia, pelo menos mais quatro casos semelhantes foram revelados, só no Pará.

Ironicamente, na mesma semana em que esta notícia aterradora foi divulgada, o governo federal e o PT comemoram o resultado do índice de desenvolvimento humano no país. Não entra na minha cabeça como festejar tal resultado tendo fatos tão hediondos acontecendo no Brasil. Daí eu fico tentando imaginar qual é a espécie humana que vem se desenvolvendo neste Brasil em que mulheres são presas junto a homens e estupradas em troca de sobrevivência. Com certeza não são os humanos do Pará, tratados como animais.

E a governadora Ana Júlia? Pelo menos sabemos que se preocupa com alguns seres humanos, já que, desde que assumiu o governo do Pará, tem se empenhado compulsivamente em acobertar e empregar ex-namorados e ex-maridos.

Um dos ex-namorados, Marcílio Monteiro, em 2005 foi acusado pela CPI da Biopirataria de chefiar um esquema de corrupção dentro do Ibama durante o período em que era gerente executivo do órgão no Pará (cargo arrumado pela então senadora). Ana Júlia tinha conhecimento de todo esquema que servia para financiar candidaturas do PT, segundo apurou a CPI. Várias pessoas foram indiciadas, mas a senadora fez um acordo para que ela e o ex-namoradinho ficassem fora da lista. Hoje Marcílio Monteiro é Secretário Extraordinário de Projetos Estratégicos do Pará.

Mas não são apenas seus ex-relacionamentos que merecem toda sua atenção e zelo. Ela empregou três irmãos, um primo, um ex-cunhado e uma ex-cunhada. Ana Júlia também nomeou e depois teve que exonerar por pressão da mídia, Manuella Figueiredo Barbosa e Franciheli de Fátima Oliveira da Costa, sua cabeleireira e sua esteticista. Tá certa, ela precisa cuidar da sua inebriante beleza!!!

Mas a governadora adora mesmo é de seus ex-namorados e ex-maridos. Rômulo Paes de Sousa, seu primeiro ex-marido, por indicação dela é secretário de Avaliação e Gestão da Informação do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), do governo Lula.

Mais ação da petista? No ano passado ela firmou um convênio entre o Governo do Pará e o Aeroclube do Pará, destinando R$ 3,7 milhões para treinamento de 14 pilotos de helicópteros, mesmo o governo tendo apenas um helicóptero. A prioridade da moça? O seu namorado na época, Mário Fernando Costa presidia o Aeroclube.

Não sei se ela continua com o namorado do Aeroclube ou se já o trocou, talvez se eu pegasse o Diário Oficial do estado do Pará me inteiraria dos assuntos amorosos da governadora.

Quanto ao episódio da garota estuprada, Ana Júlia, mesmo com quase um ano no governo, disse que seu governo não tinha conhecimento da prisão de mulheres com homens no interior do Estado e que ficou chocada "como mulher e como governadora" ao saber da notícia.

Apesar de achar que o fato ocorrido no Pará, mais que um ultraje ao gênero, é um acinte à dignidade humana, se pelo menos a governadora se valesse da enfadonha, cafona e populista bandeira das mulheres petistas, a luta pelos direitos da mulher, talvez esta barbaridade não fosse reincidente no estado em que ela governa.

Ana Júlia chegou à conclusão que "uma mulher não poderia estar presa numa cela com homens". Garanto que seu cinismo ainda nos fará vê-la participando de algum ato "em defesa dos direitos da mulher" no próximo dia oito de março e ainda ouviremos seu discurso pedindo o fim da violência com que os homens tratam suas mulheres.

Olha, só não desejo o mesmo para a governadora, isto é, ficar presa em uma cela com homens cheios de amor pra dar, porque, sinceramente, não sei para quem seria o castigo.

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