Da linhagem das senadoras boas de briga,
Kátia Abreu, do DEM, fala grosso sem descer
do salto nem descuidar do figurino
Juliana Linhares
Sergio Lima/Folha Imagem |
FORA, CPMF |
Até o ano passado, a senadora mais célebre do Congresso Nacional era uma professora de enfermagem de voz estridente, cabelos presos em rabo-de-cavalo, nenhuma maquiagem no rosto e guarda-roupa imutável (camiseta branca e calça jeans, fizesse chuva ou fizesse sol). Heloísa Helena, do PSOL, derrotada nas últimas eleições presidenciais, voltou a dar aulas em Alagoas, e, como na política não há lugar para vácuo, seu posto de musa oposicionista já está ocupado – e por uma colega que é, em tudo, o seu oposto. Kátia Abreu, eleita pelo Democratas do Tocantins, é fazendeira, rica e tão vistosa que, aos 45 anos, foi apelidada pelos colegas de Ivete Sangalo do Senado. O figurino da senadora – que inclui meias pretas rendadas, largos brincos de argola e sapatos vermelhos de salto altíssimo – não é a única razão do apelido. Kátia Abreu tem feito um barulho infernal no Congresso.
Nomeada relatora da proposta de emenda da CPMF, produziu relatório estrepitoso propondo a extinção do tributo (antiga bandeira do seu partido), passou a semana rodando o Senado com o documento debaixo do braço à caça de votos contrários ao imposto e montou até uma instalação no salão de café dos senadores, destinada a chamar atenção para a causa: uma árvore de Natal decorada com lembretes mostrando quanto representam os impostos no preço de alguns produtos. Não foi a única briga em que a senadora se meteu. Como titular da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), Kátia já bateu boca com o senador Aloizio Mercadante (a quem só chama de "Mercapedante") e com outra estrela petista, a senadora Ideli Salvatti, que a acusou de ser condescendente com o trabalho escravo.
Kátia Abreu forjou seu estilo na aspereza do cerrado do Tocantins. "Falo mais grosso que qualquer peão", diz. Nas festas em seu estado, ela troca os vestidos por bota, jeans, chapéu e cinto de caubói. Quando tinha 25 anos e estava grávida do terceiro filho, Kátia se viu viúva e dona de uma fazenda de 5.000 hectares e 2.700 cabeças de gado. Com a morte do marido, interrompeu o curso de psicologia – depois concluído – e assumiu a direção dos negócios da família. Além de passar a comandar treze famílias de colonos, aprendeu a dirigir trator e a marcar os bois a ferro. Hoje, o rebanho aumentou para 10.000 cabeças. O patrimônio também foi acrescido de outra área, de 3.000 hectares, dedicada à plantação de soja. Só essa nova fazenda está avaliada em 12 milhões de reais. A agropecuária foi o trampolim para a carreira política da senadora. Seis anos depois de assumir a fazenda, Kátia passou a ocupar a presidência do sindicato dos fazendeiros de Gurupi, onde ficam suas terras. Em seguida, tomou o comando da Federação de Agricultura de Tocantins. Hoje, é vice-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil. Em 1999, assumiu pela primeira vez um mandato na Câmara Federal, como suplente, e em 2002 conquistou a maior votação para deputado federal no estado.
Desde que ficou viúva, teve cinco namorados, todos por períodos longos. Um deles foi o deputado Michel Temer (PMDB-SP), mas ela se recusa a falar sobre o assunto. Os amigos dizem que a sisudez do ex-presidente da Câmara não combinava com o seu estilo animado. A senadora é festeira. Todas as segundas-feiras, reúne-se no restaurante Piantella com seus colegas do DEM, para discutir a semana, jantar e tomar meia garrafa do vinho argentino Catena Zapata, seu tinto preferido. Às terças, recebe amigos em casa e, vez ou outra, freqüenta as festas na casa do senador Demóstenes Torres (DEM-GO), de quem é amiga há anos. Foi numa dessas festas que Kátia foi oficialmente apresentada a seus pares. Na ocasião, anunciou: "Vou animar esse Senado". Está cumprindo a promessa.
O estilo da senadora
Fotos Ueslei Marcelino e Orlando Brito/Obrito News |
ANTI-HELOÍSA HELENA |