Eduardo Emrich Soares
Há dias, a Fundação Biominas divulgou estudo atualizado de Empresas de Biotecnologia do Brasil. No levantamento foram identificados 71 empreendimentos que se enquadram nas classificações internacionais como biotecnológicos, ou seja, têm por atividade principal a aplicação tecnológica com o uso de organismos vivos, sistemas ou processos biológicos, da pesquisa e desenvolvimento até a manufatura de produtos ou a oferta de serviços especializados.
Numericamente, o Brasil precisa fazer um grande esforço de criação de novas empresas para aproximar-se dos grandes centros, como Estados Unidos, Alemanha e Inglaterra. Mas não fazemos feio diante de países como Itália e Espanha, nos quais a EuropaBio contabilizou 51 e 81 empresas, respectivamente, em 2004.
O mercado brasileiro é formado, na maioria (75%), por empreendimentos de micro e pequeno porte, com faturamento inferior a R$ 1 milhão/ano e equipes de menos de dez colaboradores. São 71 empresas identificadas, 51% criadas a partir de 2002 - 35,2% incubadas em instituições como a própria Biominas - e menos de um terço com 15 ou mais anos. É uma demonstração de dinamismo e juventude.
Não por acaso mais de 80% das empresas brasileiras se situam na Região Sudeste, notadamente em São Paulo e Minas Gerais, junto a importantes pólos de pesquisa universitária e incubadoras dedicadas a empreendimentos do setor, o que comprova a relevância dessas instituições para o sucesso de empresas tecnológicas. Destaques, além das capitais, são as regiões do Triângulo Mineiro, Viçosa, Campinas, Ribeirão Preto e Botucatu.
É ainda modesto o número de 17 patentes depositadas por 11 das 71 empresas, ou seja: 84,5% ainda não possuem patentes no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi). Mas isso não significa dizer que elas não promovam inovação ou não desenvolvam produtos e serviços avançados. Na verdade, o modelo brasileiro até recentemente privilegiava mais a pesquisa acadêmica do que a investigação realizada em empresas. Por isso grande parte das patentes é solicitada por universidades e centros de pesquisa, sendo depois eventualmente repassadas por acordos de transferência a terceiros empreendedores.
Essa realidade vem mudando com a destinação de recursos para projetos de colaboração universidade-empresa ou diretos para empresas inovadoras. O apoio governamental é decisivo, pois, mesmo em economias avançadas, com abundante capital privado, o porcentual de recurso público em empresas start-ups pode chegar a 75% do total. No Brasil, foram recursos federais e estaduais que possibilitaram a constituição de uma base científica diversificada e ampla com reconhecimento internacional.
Para a transformação desse conhecimento em tecnologia aplicada - produtos, serviços e empresas de classe mundial -, falta ao País, além de um ambiente regulatório favorável, melhor acesso a financiamentos. É necessária a formação de uma cesta que reúna, além de fundos públicos, aportes de parceiros estratégicos e de capital empreendedor privado.
Felizmente, esse movimento também começou no País. Já existem fundos de investimentos focados em empresas de base biotecnológica e muitos outros interessados em analisar projetos. O bom momento vivido pela biotecnologia no Brasil, em áreas estratégicas como biocombustíveis, agricultura e saúde humana, foi fator decisivo para a realização da próxima edição da Biolatina em São Paulo, com organização da Fundação Biominas e apoio da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial e do Comitê Nacional de Biotecnologia.
O objetivo da Biolatina 2008 é promover a aproximação das nossas empresas de biotecnologia a empresas consumidoras, parceiros, pesquisadores e investidores do continente, da Europa, Estados Unidos e Ásia. Composto de encontro de negócios, exibição e congresso, o evento é todo dedicado à realização de negócios e há razões para otimismo quanto aos resultados. O Brasil tem forte diferencial competitivo em sua imensa biodiversidade, competência científica e modelo de sustentabilidade econômica, social e ambiental que precisam ser bem explorados para gerar valor para a sociedade. A biotecnologia é chave para isso.
*Eduardo Emrich Soares, biólogo formado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pós-graduado em Administração Financeira pela Fundação Dom Cabral (MG) e em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-MG), é presidente da Fundação Biominas