Entrevista:O Estado inteligente

sábado, dezembro 01, 2007

Celso Ming O Império contra-ataca


As autoridades dos Estados Unidos já não disfarçam a montagem de uma ação conjunta de guerra destinada a enfrentar o estouro da bolha imobiliária e seus efeitos, tanto econômicos como políticos.

Quarta-feira foi o número dois do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), Donald Khon, quem se encarregou de anunciar que a política de juros continuaria a ser flexível para ajudar a desobstruir as veias do crédito.

No dia seguinte, o próprio presidente do Fed, Ben Bernanke, afirmou na Câmara de Comércio de Charlotte (Carolina do Norte) que “os diretores do Fed precisam estar excepcionalmente alertas e flexíveis” com o objetivo de evitar que a economia americana despenque na recessão.

São dois discursos que ultrapassam o significado imediato das palavras neles empregadas. Assim, naquele jeito típico pelo qual as autoridades da área monetária se comunicam com os agentes econômicos, foi passado o recado de que, para o dia 11, data da nova reunião do Fed para ajustar a política monetária, está sendo preparado novo corte dos juros primários que hoje estão a 4,50% ao ano.

O Fed teria dois motivos fortes para fazer o contrário do que está anunciando. Tem de combater a inflação que ganha impulso com a alta dos alimentos e dos preços dos combustíveis. E tem de garantir a recuperação do dólar como moeda de reserva. No entanto, a opção clara é pela redução dos juros. Isso indica que as prioridades são a normalização do crédito e o funcionamento do mercado financeiro.

O secretário do Tesouro, Henry Paulson, por sua vez, passou a coordenar uma ação entre os bancos privados destinada a congelar os juros de certos segmentos do crédito hipotecário, para que não aumente a inadimplência entre os tomadores de financiamento habitacional. Esta é uma intervenção pouco comum nos Estados Unidos, onde, para o bem e para o mal, as autoridades públicas preferem não se meter nem na celebração nem na execução dos contratos do setor privado.

Desta vez, no entanto, está sendo preciso agir rapidamente para neutralizar os efeitos devastadores que a execução das hipotecas e a perda da casa própria poderiam ter na campanha do Partido Republicano às eleições presidenciais que vêm aí.

Nessas horas, o presidente Bush deverá se lembrar do slogan empregado em 1992 pelo então candidato democrata Bill Clinton, que derrotou fragorosamente o também candidato Bush (pai): “É a economia, idiota.”

As autoridades americanas parecem ter entendido que nada pode avançar nos Estados Unidos enquanto as chamas da crise não forem debeladas.

A partir dessas iniciativas, dá para prever três conseqüências na área econômica. A primeira é a de que fica mais baixa a probabilidade de que ocorra uma recessão braba nos Estados Unidos, que teria também impacto negativo sobre a campanha eleitoral do Partido Republicano.

A segunda é a de que não haverá tão cedo uma reversão da liquidez global. Juros baixos são dinheiro farto. E essa fartura indica que mais capitais deverão sobrar para fluir para o Brasil.

A terceira é a perspectiva de que continuem os tempos de bonança nos mercados de risco, especialmente de commodities e ações.

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