O Estado de S. Paulo |
21/12/2007 |
Noves fora os engajados na causa e os interessados em tocar a obra, é de se perguntar se alguém mais no País sabe dizer se o projeto de transposição das águas do Rio São Francisco é bom, ruim ou muito antes pelo contrário. No mínimo há três governos, desde Itamar Franco, o projeto rende polêmica. Discutem governadores de Estados “doadores” e “receptores” das águas, ambientalistas, Ministério Público, porta-vozes dos prós e dos contras das mais variadas origens sociais e matizes ideológicos, numa produção de argumentos que se anulam uns aos outros sem produzir uma tradução que possibilite quem não é especialista compreender o assunto e tomar uma posição. Resultado: a sociedade acompanha episódios como o da greve de fome do frei Luiz Cappio sem entender coisa alguma, só na base da torcida. Quem acha que o religioso extrapola, torce contra. Quem enxerga no governo intransigência ao não “dialogar”, fica a favor. E a transposição propriamente dita fica relegada ao terreno dos temas obscuros. Sabe-se apenas que o governo vai tocar a obra alegando o benefício a 12 milhões de “pobres”, que ela custa R$ 5 bilhões, que o Supremo Tribunal Federal considera atendidas todas as exigências técnicas, que os adversários temem pela saúde do rio, pela malversação de verbas públicas, pela ausência de favorecimento real a quem precisa. Afora isso, sabe-se que um bispo da Igreja Católica oferece a própria vida em holocausto contra o projeto, que artistas choram clamando por misericórdia às autoridades, que o Senado compõe uma comissão para salvar o bispo, mas não se compadece das vítimas das balas perdidas, que durante 23 dias o País acompanhou um episódio cujo resultado somou zero, que as águas de qualquer forma serão transpostas e, posto tudo isso, não há quem possa dirimir a dúvida essencial: afinal, com quem está a razão? O Supremo decidiu que o governo está certo. Mas três ministros disseram que não: falta o atendimento a exigências mínimas do projeto, garantias à preservação do meio ambiente, segurança na aplicação dos recursos públicos e explicações quanto ao benefício à população castigada pela seca. Há mesmo, entre os especialistas, a alegação de que não há falta de água que justifique uma obra dessa “dimensão”. E permanece a indagação: de qual dimensão estamos falando exatamente? Agora, depois de supostamente encerrada a greve de fome, que a família do frei decreta encerrada, mas os combatentes contra a transposição mantêm acesa a hipótese de retomada, fala-se em continuidade do “diálogo”. Em que bases, para chegar a qual ponto de convergência mesmo, não se esclarece. Na quarta-feira, durante a discussão do tema entre senadores, um deles tentou esclarecer, alegando que as conversas permitiriam ao governo executar “políticas importantes”. Nítido, pois, que nem mesmo os senadores, autoridades constituídas, com assessores, gabinetes, instrumentos e acesso a todo tipo de informação, sabiam, no conteúdo, abstraindo-se as performances de parte a parte, a respeito do que discutiam. Não estão sós em sua ignorância. Nela, andam em consonância com a sociedade. Bem como já andou o próprio ministro da Integração, Geddel Vieira Lima. Baiano, originário de Estado “doador” de águas, o ministro hoje admite: também era contra e não sabia bem por quê. Ficou a favor ao se inteirar do assunto, nos preparativos para assumir o posto. A mesma oportunidade de decidir seria dada a nós, ignaros, se engajados e interessados se dispusessem a deixar de lado as paixões para explicar com objetividade, começo, meio e fim, o que afinal de contas o Brasil ganhará ou perderá com a transposição das águas do Rio São Francisco. Quase-quase Já se leva em conta no Congresso a hipótese de, muito em breve, o líder do governo no Senado, Romero Jucá, deixar o posto e o mandato para assumir o governo de Roraima. Se o atual governador, José de Anchieta Júnior, vice de Ottomar Pinto, recentemente falecido, for condenado na ação que sofre por acusação de compra de votos, assume o segundo colocado na eleição de 2006: Jucá. Nesse caso, a preocupação dos oposicionistas recai sobre quem, então, zelará pelo cumprimento do acordo firmado entre governo e oposição para a aprovação da DRU. Como os avalistas diretos foram Romero Jucá e o ministro das Relações Institucionais, sobra o ministro José Múcio. Sem prejuízo das cobranças ao presidente quando da negociação do Orçamento de 2008, em fevereiro. Mão que afaga A avaliação do Democratas é de que Lula acertou na reação à derrota da CPMF: percebeu que a causa era cara à sociedade, não passou recibo, associou-se ao discurso da redução de tributos e deixou para decidir depois, quando as condições de tempo e temperatura estiverem mais nítidas. Se à frente recuará, só as pesquisas dirão. “Ele tem uma percepção sobre o rumo das ruas muito acima do normal”, diz o senador José Agripino. |
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, dezembro 21, 2007
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