O Estado de S. Paulo |
7/12/2007 |
Preocupado com as conseqüências, convencido de que está diante de um ato político e disposto a não ceder ao que o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, chama de “chantagem pela via da imolação”, o governo federal iniciou gestões junto à Igreja Católica para que ela convença o bispo de Barra (BA), frei Luiz Flávio Cappio, a desistir da greve de fome que completa hoje 11 dias. Na primeira vez que d. Luiz Cappio fez greve de fome contra o projeto de transposição das águas do Rio São Francisco o governo recuou. Prometeu o “diálogo” e só iniciou as obras quase dois anos depois, no início de 2007. Agora, a decisão é administrar o problema de forma diferente: transferir a responsabilidade a quem de direito, os superiores do bispo na hierarquia da Igreja. O secretário particular do presidente Luiz Inácio da Silva, Gilberto Carvalho, e o secretário-geral da Presidência da República, Luiz Dulci, já fizeram as primeiras gestões junto à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Explicaram a posição do governo, pediram que o demovam da idéia de continuar com a greve e examinam alguma outra medida. Inicialmente, o governo pensou em mandar uma carta ao Vaticano, como da primeira vez, mas, como o gesto não surtiu efeito, a idéia não prosperou. “A Igreja precisa dizer se considera legítimo um católico atentar contra a própria vida para forçar um governo a alterar a implantação de uma política pública, porque, se assim for, será tido como aceitável também que um católico se imole em praça pública até que o papa mude sua posição, por exemplo, contra o aborto”, argumenta o ministro da Integração Nacional. Segundo ele, o governo resolveu adotar uma posição mais rigorosa porque o bispo não deixou saída: “Disse claramente na carta que enviou ao presidente Lula que não aceitava nada menos que a paralisação das obras e o arquivamento definitivo do projeto. Ora, está dizendo que não concorda com um projeto, por isso está disposto a se matar e que a culpa é do governo. Não, é preciso deixar.” Mas, e o diálogo prometido em 2005, quando da primeira greve? “Há nove meses, quando assumi, telefonei para o frei, pedi para conversar. Ele me disse que ia consultar algumas pessoas e jamais retornou a ligação.” “Ademais”, e aí Geddel Vieira Lima entra numa outra discussão - sobre o papel de cada um na sociedade, movimentos sociais inclusive -, “o diálogo tem limitações. De forma e conteúdo. Não é eterno nem pode pretender-se como substituto do ato de governar. A participação da sociedade na escolha do agente que conduzirá as políticas públicas ocorreu na eleição. Na próxima, ela tem a oportunidade de manifestar sua discordância.” A questão que se põe, acrescenta o ministro, é a seguinte: “A democracia permite, suporta, legitima esse tipo de chantagem?” Na visão dele e, assegura, também na do presidente da República, não. “O poder de decisão é do governo, não obstante seja indispensável levar em conta o que pensa a sociedade. Mas, no caso, o que se tem é um religioso disposto a se martirizar para a imposição de uma vontade e, como ele mesmo diz, sem apresentar alternativa.” Tudo muito bem entendido. Mais esclarecido ainda ficará quando, e se, o presidente Lula avalizar de público essa posição. Inclusive porque, em matéria de imposição de vontades, o presidente é catedrático, conforme sua manifestação ontem no Pará, jogando contra os pobres os adversários da CPMF. Se o bispo não tem legitimidade para conduzir posições de governo - e não tem -, o mandato presidencial tampouco autoriza o governante a dividir o País. Quadrilha Cada autoridade paraense que abre a boca para falar sobre a garota estuprada numa cela de delegacia por 24 dias consecutivos produz uma estultice que ajuda a entender origem e razão do acontecido. Para a governadora, o fato é indigno, mas tradicional no Estado; para o delegado-geral (agora ex) da Polícia Civil, a menina é culpada porque, mentalmente desequilibrada, não avisou “sobre sua menoridade”. Agora vem a delegada corregedora, Liane Martins, e reforça a tese, no intuito de atenuar a responsabilidade dos policiais de Abaetetuba, onde ocorreu o caso. “Ela se apresentava como maior de idade. Alguma negligência houve, mas não é o caso de demissão.” No Pará, o poder público acha normal uma repartição servir de palco a estupros assistidos por servidores que, quando levados a erro de informação pela vítima, são no máximo negligentes. E o presidente passa por lá, desanca quem é contra a CPMF, mas cala sobre a violência de Estado. De espírito “Pobre relator”, caçoavam os convivas do festim em homenagem à absolvição de Renan Calheiros, na casa de José Sarney. É o tal negócio: o senador Jefferson Péres pode ser pobre, mas é limpinho. |
Entrevista:O Estado inteligente
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