Entrevista:O Estado inteligente

sábado, dezembro 08, 2007

DORA KRAMER No contra-fluxo da maré

Na escolha do novo presidente do Senado as coisas se passam mais ou menos como na prorrogação da CPMF: no fim, vence o mais forte. No caso, o governo, a quem o Poder Legislativo presta serviço de submissão.

Mas não se pode deixar de reconhecer que, diferentemente da Câmara, cuja capacidade de se submeter aos ditames do Palácio do Planalto chega ao ponto de os deputados suspenderem temporariamente sua prerrogativa de legislar para não criar problemas à tramitação da CPMF na Casa ao lado, no Senado há alguma luz na escuridão. Pálida, mas há.

Pedro Simon não será presidente do Senado nem o será qualquer outro que não esteja perfeitamente enquadrado às regras do Palácio do Planalto.

Essa é a realidade cristalina exposta com toda clareza pelo próprio Simon ao aceitar apresentar seu nome à bancada do PMDB no intuito apenas de obrigar o partido a se expor na negativa. "Não serei indicado, mas a bancada será obrigada a dizer não."

Foi incentivado pelo apoio de mais de 30 senadores que aderiram à iniciativa de Cristovam Buarque e Eduardo Suplicy de lançar Simon.

Como falamos sobre o ato de remar contra a maré, cabe um parêntese. Em 1997 os dois participaram juntos de uma das poucas tentativas dentro do PT de criar lideranças que pudessem vir a ser alternativas eleitorais ao nome de Luiz Inácio da Silva.

Cristovam e Suplicy apresentaram suas pré-candidaturas à disputa presidencial de 1998, mas foram obrigados a desistir por pressão da militância e da máquina lulista. Não houve prévias porque não poderia haver sombra ao líder maior.

Hoje o efeito dessa preponderância aparece na forma do desempenho pífio nas pesquisas de todos os possíveis postulantes petistas à sucessão de Lula. Mas isso é uma outra história, lembrada apenas pela coincidência de serem os senadores agora também patrocinadores de um gesto contra a corrente.

Esta dificilmente deixará de vencer, mas terá de rebolar.

As manifestações contrárias à candidatura de José Sarney, que deixaram de ser obra exclusiva do líder do PSDB, Arthur Virgílio, desde a apresentação do nome de Simon, enterram as pretensões do presidente Lula de ver Sarney de volta ao posto.

O ex-presidente da República não enfrentará resistências, não entrará em disputas e, dizem seus correligionários, não gostaria de, nesta altura da vida, ocupar um mandato tampão. Veria com gosto uma candidatura para o biênio 2009-2010, durante o processo de sucessão presidencial.

Lula queria Sarney não porque estivesse, como difundiram os petistas no afã de convencer os colegas, preocupado com a derrocada da imagem do Senado, pois nesse campo joga no quanto pior melhor, com a gentil colaboração da maioria da Casa.

Está interessado mesmo é em ter ali alguém de confiança para impedir que o salve-se quem puder presidido por uma nulidade continue lhe criando problemas no Senado. Ainda mais no ano eleitoral de 2008. Em 2004, quando enterrou a CPI para investigar o caso Waldomiro Diniz, José Sarney se mostrou à altura dessa confiança.

Mas, como tudo na vida tem seu preço, também por causa de atos como aquele Sarney perdeu a condição de majestade e passou a ser contestado explicitamente como representante da "submissão" e da continuidade da gestão de Renan Calheiros. Tal chancela conquistou ao aceitar a função de conselheiro do acusado na crise.

Na próxima semana, sem candidato natural, o PMDB, então, terá de se livrar de Pedro Simon, administrar a reação nos outros partidos, convencer Lula de que Garibaldi Alves pode ser confiável - além de ser uma ótima escolha para criar cisão na base do conterrâneo José Agripino (líder do Democratas) - e mostrar ao presidente Lula que suas outras opções preferenciais (Valdir Raupp e Romero Jucá) representam risco, pois têm contas a prestar na Justiça.

Isso se a escolha ocorrer mesmo na semana que vem. No fim, muito possivelmente sairá tudo conforme o figurino mais aceitável ao governo. Mas parte do Senado pelo menos terá dito que ainda preserva algum sentido de independência.

Xepa

Quinta-feira, um governista expert em contabilidade parlamentar que já prestou esse serviço a outros senhores registrava ainda ausência de dois votos para o Planalto conseguir aprovar a CPMF na terça-feira.

Apontava também a inutilidade de o governo gastar o latim para convencer quem quer que seja. A ofensiva teria de ser de natureza prática.

Como, de resto, indica a tática de ataque adotada pelo presidente da República. Se tivesse ainda a esperança de conquistar votos na base do argumento não chamaria os adversários para a briga como está fazendo.

Mas, ao contrário do que a ira presidencial no palanque possa fazer crer, o clima não é de desespero. O único voto considerado irreversível no PMDB é o de Jarbas Vasconcelos. No PSDB, o governo reza no altar de Minas Gerais.

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