Entrevista:O Estado inteligente

domingo, dezembro 09, 2007

DANUZA LEÃO

Tragédia nacional


A escola não existe só para ensinar a ler e a escrever mas também para formar cidadãos. Dá vergonha

NINGUÉM VAI me dizer que as crianças brasileiras só são mais inteligentes do que as de um país que se chama Quirguistão, do Qatar e da Tunísia. Por que, então, elas não conseguem aprender a ler? Porque quem ensina não sabe ensinar, claro.
Quando houve a tragédia da jovem presa na mesma cela com 20 homens, no Pará, logo veio a notícia de uma verba de R$ 89 milhões para melhorar as prisões do Estado, como se essa fosse a solução do problema.
Quando foram divulgados os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos, o ministro da Educação apareceu na televisão dizendo que seu ministério precisava de mais verba para que o ensino melhorasse. Mas o problema não é só de verba, em nenhum dos dois casos; é preciso saber como usar a verba, e até agora não ouvi uma só palavra sobre um projeto para formar novos professores.
Renovar as salas de aula, dar mesas e cadeiras para que os estudantes estudem é necessário, claro; mas sem bons professores, professores que saibam ensinar, nada vai mudar.
Leva tempo, eu sei, mas é preciso começar a investir direito para um dia colher os frutos, mesmo em um próximo governo que não seja do PT. O sistema de educação da França, um dos melhores do mundo, foi implantado por Napoleão Bonaparte ainda no século 19, e é tão bom que continua o mesmo até hoje. O Brasil não precisa criar; basta ir lá, ver e copiar.
Uma criança que passa apenas quatro horas do dia na escola dificilmente vai chegar em casa, pegar o caderno e, por vontade própria, fazer o dever de casa e estudar a lição. E sem essa de dizer que os pais, que antes colaboravam, hoje em dia não colaboram. Nos tempos atuais, na maioria das famílias, pais e mães não têm tempo de estudar com seus filhos porque trabalham, razão a mais para o garoto chegar da escola, ligar a televisão e ficar vendo um filme. O estudo e os deveres têm que ser feitos ainda no colégio, sob a supervisão dos professores, quem não sabe?
Crianças de 15 anos que não sabem ler corretamente, e quando conseguem, não entendem o que leram, é uma lástima. A escola não existe só para ensinar a ler e a escrever mas também para formar cidadãos. Dá vergonha e dá pena; o que será do futuro dessas crianças? O que será do futuro do Brasil? Não seria mais útil ter empregado o dinheiro da mais do que inútil TV Brasil em educação? E o R$ 1 bilhão do BNDES para ajudar na comercialização dos conversores da TV digital? Não seria melhor ser usado na educação?
Outra coisa que me chamou a atenção nessa semana foi a invenção, do ministro da Defesa, de multar as companhias de aviação que atrasarem os vôos. Muito bem, ótimo, quem não quer ter os aviões no horário? Mas até provar a razão do atraso -por necessidade de uma manutenção mais demorada, porém necessária, por exemplo-, vai ser um problema. As companhias não vão querer pagar por isso, e talvez prefiram "economizar" nesse pequeno detalhe, o que em aviação pode significar tragédia. Eu, por mim, prefiro que meu avião atrase a que caia. Será que estou errada?
Não é por nada não, mas este país está um caos, c-a-o-s. O Senado livrou a cara de Renan Calheiros, e eu gostaria de saber de alguma coisa, qualquer uma, da responsabilidade do governo, que funcione bem. Só uma, e eu já fico feliz (a estabilidade monetária não vale, esta Lula já encontrou prontinha). Quem souber que me mande um e-mail.

danuza.leao@uol.com.br

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