Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, dezembro 05, 2007

Celso Ming,Dia de Copom

celso.ming@grupoestado.com.br

Hoje é dia de Copom, tempo de revisitar o velho e nunca esgotado tema dos juros.

Desta vez, há pouca dispersão nas expectativas. As apostas se concentram na manutenção dos juros básicos (Selic) nos 11,25% ao ano.

De 17 de outubro para cá, pouca coisa mudou na economia, dentro e fora do País. Se tem de ser coerente, o Banco Central não pode mudar a atitude definida em outubro, de esperar para ver.

Além disso, o consumo está tão forte que a indústria já não está mais dando conta de atendê-lo. Ontem, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) revelou que, em outubro, o setor já estava usando 82,8% de sua capacidade de produção, recorde histórico. É um dado que parece afastar a hipótese de baixa da Selic.

Como os juros levam de seis a oito meses para produzir efeito sobre a atividade econômica e sobre a inflação, o Banco Central está mirando agora o segundo semestre do ano que vem.

No regime de metas de inflação, a política monetária (política de juros) cumpre o objetivo de empurrar a inflação para dentro da meta. Este é um objetivo técnico que tem um importante desdobramento político.

A propósito, ontem o jornal Valor observou que a disparada da inflação de 20% ao ano, comboiada por uma crise de desabastecimento, foi um dos fatores que pesaram na derrota do presidente venezuelano Hugo Chávez no plebiscito de domingo, convocado para perpetuar seu poder.

Em 1994, por ocasião do Plano Real, o presidente Lula já havia percebido a força eleitoral de uma inflação sob controle. No ano passado, a valorização do salário e do poder aquisitivo do trabalhador, graças à obtenção de uma inflação civilizada, foi entendida como um dos principais cabos eleitorais do presidente Lula.

Embora razões assim nunca sejam claramente externadas, é possível esperar do Banco Central escolhas que, em última análise, tenham certa carga política. Seria muito ruim, por exemplo, se, às vésperas das eleições municipais de 2008, o Banco Central tivesse de puxar os juros para cima. Isso sugere que as autoridades da área manobrem a política monetária de forma a concentrar o aperto maior nos próximos meses para que possam desafogar a economia a partir de junho ou, quem sabe, até mesmo antes, na reunião de abril.

Há outra consideração a fazer sobre uma crítica recorrente: a de que esses juros escorchantes bloqueiam o crédito, o consumo e, conseqüentemente, o avanço econômico. De fato, os juros básicos no Brasil continuam entre os mais altos do mundo (entre os países emergentes, apenas suplantados pelos da Turquia) e, no entanto, não são obstáculo para que o crédito salte 26%, que o consumo avance quase 10% e a atividade econômica cresça o dobro (5%) dos últimos dez anos (cerca de 2,5%).

Há o velho argumento de que, se fossem mais baixos, os juros estariam puxando a atividade econômica ainda mais do que agora.

Aí entra em cena um risco com o qual não se pode brincar: o de que um consumo excessivamente aquecido engatilhe a inflação de demanda, aquela que é provocada pelo aumento da procura sem resposta correspondente da produção. Os números da CNI acima apontados corroboram para o aumento desse risco.


Confira

Pergunta: juros internos a níveis internacionais acabariam com as operações de arbitragem, que levam os especuladores a tomar empréstimos a juros baixos lá fora para aplicar aqui, com rendimento bem mais alto?

É possível que essas operações diminuíssem se houvesse forte queda dos juros. Mas elas continuariam sendo praticadas porque é impossível baixar os juros brasileiros aos padrões japoneses, de 2% ao ano.

De todo modo, é discutível se, na altura em que estão, os juros básicos têm impacto relevante na baixa do dólar no câmbio interno

Arquivo do blog