Entrevista:O Estado inteligente

domingo, dezembro 02, 2007

Celso Ming Discurso esvaziado

Já foi muitas vezes notado que o discurso dos economistas contrários à atual política econômica, também conhecidos como desenvolvimentistas, vai sendo esvaziado porque mudar está ficando inútil.
Uma das reivindicações recorrentes desses economistas é a de que o governo assuma o controle do fluxo dos capitais para impedir que a especulação internacional siga produzindo valorização excessiva do real (baixa do dólar).

Essa proposta é há muito considerada descabida pela sua baixa eficácia. Nestes tempos de internet, mercados globalizados e finanças em funcionamento 24 horas por dia, é quase impossível controlar movimentos de capitais. De mais a mais, os efeitos sobre o dólar podem estar não nos capitais que entram, mas nos capitais que deixam de sair. E, quando capitais que normalmente sairiam não saem mais, porque seus administradores entendem que é melhor mantê-los dentro do País, não faz sentido postar o Banco Central à porteira, fiscalizando quem entra e quem sai.

Mas há outras razões pelas quais essa idéia ficou disparatada. A mais notória é a de que o principal fator de valorização do real não está no fluxo de capitais para dentro e para fora, mas na derrocada do dólar nos mercados.

Quinta-feira o número de contratos no câmbio futuro da BM&F subiu a 906,3 mil, o segundo maior da história. O que significa isso? Significa que cada vez mais empresas e homens de negócios que lidam com moeda estrangeira precisam recorrer ao mercado futuro para defender suas posições. É, por exemplo, o importador que tem de desembolsar US$ 1 milhão em maio para o pagamento de uma máquina e que precisa garantir agora a cotação do dólar para se defender de uma eventual alta futura - o que aumentaria seu preço em reais. Ou, então, o exportador que só vai embarcar a mercadoria em junho e que pretende fixar agora o que vai receber em reais.

Esse jogo dos agentes econômicos não é feito apenas aqui. Tem de ser feito aqui e lá fora, para dar cobertura contratual aos negócios. E tende a crescer nos momentos de grande volatilidade cambial. Exigir que operações assim sejam submetidas previamente a um xerife significa emperrar tudo e deixar as empresas brasileiras expostas ao jogo bruto internacional.

Além disso, os defensores da instituição desses controles apontam para enormes estragos a serem produzidos pelo câmbio adverso: é queda das exportações, desindustrialização, desemprego, fuga de capitais e coisas assim. No entanto, em pelo menos sete anos de valorização do real, nada disso aconteceu. Tampouco parece provável que aconteça. E isso deve ser suficiente para se desistir de qualquer idéia nessa direção.

Finalmente, alguma coisa parece dizer que o câmbio não está tão longe do seu ponto de equilíbrio. Se isso estiver correto, não há por que buscar artificialmente essa situação. A conclusão do Ministério da Fazenda de que não há muito o que fazer para reverter a trajetória do câmbio não é uma observação vazia. É o resultado de uma dura busca de uma política nessa direção.

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