Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, junho 03, 2013

Salgaram a Santa Ceia - Ricardo Noblat



"O que museu tem a ver com educação?" - Aloizio Mercadante, em visita a um dos museus da Fundação Joaquim Nabuco, em Recife

É um exagero sugerir que o governo deflagrou a maratona do Bolsa Família, nos últimos dias 18 e 19, unicamente para atribuir sua autoria à oposição , responsável por ela mediante a difusão de boatos . O risco seria demasiado grande . E se a movimentação inesperada de cerca de um milhão de pessoas em 13 estados tivesse resultado em mortos e feridos? E se , em vez de um milhão , tivessem sido quatro, cinco milhões?

TUDO BEM, como adiantou o ministro Gilberto Carvalho: o bicho vai pegar este ano, véspera da reeleição de Dilma ou de uma improvável derrota dela. Está pegando. Faz-se o diabo para ganhar , disse a própria Dilma. Mas ninguém, em sã consciência, rasga dinheiro. Vence quem erra menos. Ousadia em excesso épara quem está desesperado. Ou aloprou.

EM 2006, candidato à reeleição , Lula bateria fácil Geraldo Alckmin no primeiro turno . Havia sobrevivido ao escândalo do mensalão graças ao erro de cálculo da oposição que, ao impeachment, preferiu esperar que ele sangrasse sozinho até a última gota. Mas, aí, funcionários da campanha de Lula alopraram encomendando um falso dossiê contra Alckmin e José Serra.

FOI UM LANCE com direito a mala abarrotada de dinheiro, batida da Polícia Federal em hotel no meio da noite e prisão do coordenador da campanha de Aloizio Mercadante, candidato ao governo de São Paulo e adversário de Serra. Para não responder sobre os aloprados, Lula fugiu ao último debate dos candidatos a presidente promovido pela TV Globo. Sua vitória acabou adiada.

O CASO DOS aloprados ficou por isso mesmo. Ao do Bolsa Família parece reservado o mesmo destino. Tudo indica que não estamos diante de um crime ardilosamente concebido. O mais provável é que tenha havido na Caixa um absurdo erro administrativo . E que, em seguida, se tenha tentado aproveitá-lo para desgastar a oposição. Nada de surpreendente .

O PRESIDENTE DA Caixa afirmou que só soube de parte do que acontecera na segunda-feira, 20. Lorota : soube na tarde do sábado, 18, que a Caixa adiantara, na véspera, o pagamento do benefício de maio de quase 700 mil pessoas. Por fim, disse que precisou de cinco dias para se inteirar dos detalhes do desastre. Lorota : bastou o fim de semana, dispensado até um pulo ao prédio da Caixa para uma reunião de emergência.

DE QUANTOS dias precisaria a oposição para armar uma operação de telemarketing capaz de atingir um milhão de pessoas distribuídas por 13 estados? Vazou da Caixa o cadastro com os números de telefones de uma fatia dos clientes do Bolsa? Ou a empresa de telemarketing disparou telefonemas aleatórios, tendo a sorte de alcançar quem, mais tarde, disseminaria boca a boca o boato do fim do programa? HÁ

PONTOS OBSCUROS de sobra a respeito do episódio. Um jornal paulista cobrou do governo respostas para todos eles. Ouviu de volta : os esclarecimentos já foram dados, ora. Evidente que não foram. Se a imprensa não existisse, os governos seriam mais felizes. Em compensação, o distinto público seria mais enganado do que costuma ser — dia sim, outro não. Ou dia sim e outro também.

A DONA DO GATILHO mais rápido do cerrado, a justiceira implacável que nada perdoa e cultiva o medo nos seus domínios, autorizou a publicação de uma nota em defesa da direção da Caixa. Se assim não procedesse, reconheceria que seu governo erra — e como erra! O passo seguinte seria se livrar de auxiliares tão descuidados. Um deles pediu desculpas aos brasileiros. Dilma é quem deveria ter pedido

Fonte: O Globo

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