O GLOBO - 02/05
Esta semana se soube que Brasil e Estados Unidos cresceram no mesmo ritmo no primeiro trimestre de 2013. Nós, 0,6%, e eles, 2,4%. É a mesma coisa. A diferença é apenas a forma como se calcula: eles apresentam o índice de forma anualizada e nós temos o hábito de olhar o dado do trimestre em relação ao anterior. Mas ficou claro que o que é bom para os Estados Unidos não é bom para o Brasil.
Para eles, o número significa a continuação da recuperação. Para nós, sinal de que estamos perto da estagflação: crescemos pouco com inflação alta. Eles são a maior economia do mundo, vivem ainda uma crise sistêmica e fizeram um forte corte de gastos públicos. Nós estamos aumentando os gastos e desidratando o superavit primário. Eles estão demonstrando dinamismo econômico. O Brasil tem perdido competitividade.
Nós sentimos os abalos da crise, mas o Brasil estava mais bem preparado do que em outros eventos de crise externa. O problema é o ponto em que estamos agora. O país não consegue sair do baixo crescimento. Os cálculos apontavam números mais robustos mas eles definharam novamente. Tem sido assim desde o começo de 2011.
Se o Brasil não é o centro da crise e se está mais forte do que em outros eventos internacionais, por que não consegue crescer? E, se não está crescendo, por que não consegue derrubar a inflação?
São as inquietações do momento. Elas é que fazem o 0,6% de crescimento no primeiro trimestre parecer pior do que é. Esperava-se mais, porque nada nos impede de crescer em ritmo maior a não ser a gestão confusa da economia.
O governo anunciou uma sequência tão grande de pacotes de estímulo que nem é necessário parar para contar. Seria perda de tempo. Todos viram a hiperatividade sem rumo com a qual o governo administrou a economia nos últimos dois anos e meio. Foram vários pacotes, desonerações, R$ 400 bilhões transferidos para o BNDES, estímulos ao consumo, bancos oficiais oferecendo dinheiro aos clientes para alavancar as compras, subsídios a vários setores industriais, subsídios ao uso da gasolina. Ao fim disso, o país colheu... PIBs pequenos e minguantes.
Talvez seja porque o governo está no rumo errado. Menos hiperatividade e mais estratégia trariam os resultados esperados. Ao intervir demais na economia, criou incertezas e distorções. O governo concedeu benefícios fiscais a setores industriais para incentivar o consumo. Conseguiu no máximo antecipar decisões de compra. Estimulou o consumo das famílias através do endividamento. Aumentou seus gastos. Desta forma, foi alimentando a inflação, que tirou capacidade de consumo das famílias.
Aos investidores, o país tem emitido sinais erráticos. A intervenção na energia descapitalizou o setor. Para cobrir o custo da decisão de reduzir o preço da energia, o governo tem inventado fórmulas que caem abruptamente sobre as empresas. Um desses aparecimentos repentinos foi a resolução do Conselho de Política Energética estabelecendo que todas as geradores, mesmo as de fontes limpas, tenham que pagar pelo custo extra do uso das térmicas. Algumas já entraram na Justiça contra a decisão estranha.
O setor de petróleo ficou cinco anos sem fazer leilão de concessão porque o governo argumentava que era necessário mudar o modelo. Acabou retomando as rodadas no modelo velho. Nesse meio tempo, a produção e área prospectada diminuíram. O governo baixou regras para privatizar os aeroportos que afastaram operadores internacionais experientes e incentivaram os grupos menores a darem grandes lances. Por uma razão nunca explicada, não incluiu o Galeão na primeira etapa da privatização. Agora, o Galeão será licitado, mas as regras já mudaram. Decidiu-se criar normas que evitem grupos com pouca experiência em administração de aeroportos. Mas os atrasos nos colocam na marca do pênalti. O governo quer que o grupo que ganhar a licitação - que ainda não feita - garanta que vai melhorar a situação do aeroporto até a Copa do Mundo. Difícil ter mudança importante em tempo tão exíguo.
Para controlar a inflação - da forma errada - subsidiou o uso da gasolina e com isso desorganizou o setor de biocombustíveis. Fez anúncios preparados por marqueteiros sobre obras e licitações na área da infraestrutura que ainda não deslancharam. Olhando bem, o baixo crescimento brasileiro tem razões internas. O mundo não tem culpa.
Para eles, o número significa a continuação da recuperação. Para nós, sinal de que estamos perto da estagflação: crescemos pouco com inflação alta. Eles são a maior economia do mundo, vivem ainda uma crise sistêmica e fizeram um forte corte de gastos públicos. Nós estamos aumentando os gastos e desidratando o superavit primário. Eles estão demonstrando dinamismo econômico. O Brasil tem perdido competitividade.
Nós sentimos os abalos da crise, mas o Brasil estava mais bem preparado do que em outros eventos de crise externa. O problema é o ponto em que estamos agora. O país não consegue sair do baixo crescimento. Os cálculos apontavam números mais robustos mas eles definharam novamente. Tem sido assim desde o começo de 2011.
Se o Brasil não é o centro da crise e se está mais forte do que em outros eventos internacionais, por que não consegue crescer? E, se não está crescendo, por que não consegue derrubar a inflação?
São as inquietações do momento. Elas é que fazem o 0,6% de crescimento no primeiro trimestre parecer pior do que é. Esperava-se mais, porque nada nos impede de crescer em ritmo maior a não ser a gestão confusa da economia.
O governo anunciou uma sequência tão grande de pacotes de estímulo que nem é necessário parar para contar. Seria perda de tempo. Todos viram a hiperatividade sem rumo com a qual o governo administrou a economia nos últimos dois anos e meio. Foram vários pacotes, desonerações, R$ 400 bilhões transferidos para o BNDES, estímulos ao consumo, bancos oficiais oferecendo dinheiro aos clientes para alavancar as compras, subsídios a vários setores industriais, subsídios ao uso da gasolina. Ao fim disso, o país colheu... PIBs pequenos e minguantes.
Talvez seja porque o governo está no rumo errado. Menos hiperatividade e mais estratégia trariam os resultados esperados. Ao intervir demais na economia, criou incertezas e distorções. O governo concedeu benefícios fiscais a setores industriais para incentivar o consumo. Conseguiu no máximo antecipar decisões de compra. Estimulou o consumo das famílias através do endividamento. Aumentou seus gastos. Desta forma, foi alimentando a inflação, que tirou capacidade de consumo das famílias.
Aos investidores, o país tem emitido sinais erráticos. A intervenção na energia descapitalizou o setor. Para cobrir o custo da decisão de reduzir o preço da energia, o governo tem inventado fórmulas que caem abruptamente sobre as empresas. Um desses aparecimentos repentinos foi a resolução do Conselho de Política Energética estabelecendo que todas as geradores, mesmo as de fontes limpas, tenham que pagar pelo custo extra do uso das térmicas. Algumas já entraram na Justiça contra a decisão estranha.
O setor de petróleo ficou cinco anos sem fazer leilão de concessão porque o governo argumentava que era necessário mudar o modelo. Acabou retomando as rodadas no modelo velho. Nesse meio tempo, a produção e área prospectada diminuíram. O governo baixou regras para privatizar os aeroportos que afastaram operadores internacionais experientes e incentivaram os grupos menores a darem grandes lances. Por uma razão nunca explicada, não incluiu o Galeão na primeira etapa da privatização. Agora, o Galeão será licitado, mas as regras já mudaram. Decidiu-se criar normas que evitem grupos com pouca experiência em administração de aeroportos. Mas os atrasos nos colocam na marca do pênalti. O governo quer que o grupo que ganhar a licitação - que ainda não feita - garanta que vai melhorar a situação do aeroporto até a Copa do Mundo. Difícil ter mudança importante em tempo tão exíguo.
Para controlar a inflação - da forma errada - subsidiou o uso da gasolina e com isso desorganizou o setor de biocombustíveis. Fez anúncios preparados por marqueteiros sobre obras e licitações na área da infraestrutura que ainda não deslancharam. Olhando bem, o baixo crescimento brasileiro tem razões internas. O mundo não tem culpa.