Os evangélicos celebram a expansão de sua fé
com a construção de santuários gigantes nos quais
o culto é um show e o pastor, seu astro principal
Rafael Corrêa
Divulgação |
Parece um Maracanã |
A religião cristã que mais cresce no mundo é a evangélica. No Brasil, seus adeptos representam hoje 18% da população – há duas décadas, essa cifra era de 7%. O crescimento do rebanho evangélico é igualmente expressivo em países da Ásia, como Coréia do Sul, Indonésia e Cingapura, na América Central e até mesmo no Leste Europeu. A evidência mais pujante do avanço dos evangélicos são os megatemplos construídos nos últimos anos para sediar seus cultos. Com o objetivo de atender aos ritos animadíssimos comandados pelos pastores, os novos templos são verdadeiras casas de espetáculos, com sistemas de som e luz semelhantes aos dos shows de rock e telões que garantem uma visão perfeita de tudo o que acontece nos cultos. A maioria delas tem assentos estofados para acomodar todos os fiéis. Como aponta a historiadora americana Jeanne Halgren Kilde no livro When Church Became Theatre (Quando a Igreja se Transformou em Teatro, inédito no Brasil), com o passar dos anos as igrejas evangélicas começaram a privilegiar o formato de anfiteatro em detrimento da arquitetura das igrejas tradicionais. Primeiro, porque a organização em auditório permite que os fiéis vejam melhor o pastor, a estrela do show. Segundo, porque se amplifica a atmosfera de comoção e envolvimento dos fiéis quando entoam hinos religiosos.
A impressionante fotografia que abre esta reportagem, nas duas páginas anteriores, foi tirada durante um culto na Igreja Lakewood, em Houston, no Texas. O santuário tem capacidade para abrigar 16 000 pessoas e recebe uma média de 40 000 fiéis por semana. Originalmente, o prédio da La-kewood era o ginásio esportivo do time de basquete Houston Rockets. A congregação gastou 95 milhões de dólares na conversão do imóvel. O teto conta com um sistema de iluminação que muda de cor conforme o culto se desenvolve: o azul invade o ambiente durante os sermões, e o amarelo, quando são executadas músicas ao som de guitarras. Estima-se que somente em equipamentos a igreja tenha gasto 4 milhões de dólares. Tudo para garantir que o pastor seja ouvido e visto por todos. "É necessário muito dinheiro para espalhar a palavra de Deus pelo mundo, e as grandes igrejas estão em melhor posição para cumprir essa tarefa", disse a VEJA o americano Joel Osteen, pastor-chefe da Igreja Lakewood.
Damon Winter/The New York Times |
Campo sagrado |
Nos Estados Unidos, as correntes evangélicas com templos gigantes, como o de La-kewood, foram as que mais cresceram nos últimos cinco anos. Hoje, existem 55 santuários semelhantes ao de La-kewood no país. Para Scott Thumma, sociólogo do Instituto Hartford de Pesquisa Religiosa, sediado em Connecticut, grande parte desse crescimento pode ser atribuída à atmosfera de grandiosidade que os megatemplos proporcionam. "Os americanos gostam de pensar grande e projetar em larga escala. É justamente esse tipo de estilo de vida que eles encontram nos megatemplos", disse Thumma a VEJA. A tendência dos santuários gigantes também tomou conta de outros países. Na Guatemala, foi inaugurado recentemente o templo Mega Fráter, com capacidade para 12 000 pessoas. Em El Salvador, a Igreja de Cristo Elim Central possui um templo gigante instalado na capital do país. As congregações evangélicas brasileiras não ficam atrás. A sede da Igreja Universal do Reino de Deus, no Rio de Janeiro, abriga 12 000 fiéis, enquanto o Templo da Glória, da Igreja Pentecostal Deus É Amor, em São Paulo, pode receber 60 000 fiéis sentados ou em pé.
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O impacto da luz |
Os megatemplos evidenciam a intenção das congregações de fazer do local de oração parte do dia-a-dia das pessoas, e não apenas um lugar para freqüentar aos domingos. Além das escolas religiosas infantis, tradicionais nas igrejas evangélicas, os santuários gigantes oferecem infra-estrutura que mais se parece com a de um câmpus universitário. Prédios anexos ao auditório principal abrigam lanchonetes, livrarias, academias de ginástica e lojas que vendem desde roupas até bíblias. A Igreja ChangePoint, em Anchorage, no Alasca, se destaca no quesito inovação. Recentemente, a congregação inaugurou uma arena esportiva coberta onde se ministram aulas de futebol para as crianças e que serve de pista de corrida para os adultos. Nos horários em que não é ocupada pelas atividades da igreja, a arena é alugada para particulares. "Essas atrações não religiosas servem para atrair o público jovem, que encontra na igreja os elementos de seu dia-a-dia", explica o sociólogo Thumma. Há igrejas que expandem seus negócios para além das lojas e atividades de recreação. Envolvem-se na construção de condomínios residenciais, shopping centers e na oferta de crédito bancário para os fiéis.
Wang Jun-Young/AFP |
A fé dos coreanos |
Entre as correntes evangélicas, a que mais cresce no mundo é a pentecostal. Na Coréia do Sul, um em cada vinte moradores da capital, Seul, pertence à pentecostal Yoido Full Gospel. A igreja, cujos primeiros cultos foram realizados numa simples tenda em 1958, hoje possui mais de 830 000 membros e um megatemplo com capacidade para 12 000 pessoas. Boa parte desse crescimento pode ser atribuída à transmissão dos cultos pela TV, recurso recorrente das igrejas pentecostais. Em Seul, a pregação do pastor David Yonggi Cho, líder da Yoido, é transmitida para dezenas de milhões de pessoas no mundo todo pela TV e pela internet, com tradução simultânea em oito idiomas. "O apelo emocional da imagem de um lugar lotado de pessoas rezando e cantando é muito forte", diz o sociólogo Ricardo Mariano, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. "A televisão permite levar à casa das pessoas essa sensação de bem-estar coletivo característica do megatemplo, atraindo mais fiéis para a igreja", ele completa. São recursos como esse que empurram a expansão dos evangélicos.
Orlando Sierra/AFP |
Dá para chegar de helicóptero |
Roberto Setton |
O maior do Brasil |
Jorge Junqueira/divulgação |
Arquibancada do Senhor |
Os templos são pop, mas não
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