editorial |
O Estado de S. Paulo |
18/12/2007 |
Desde que o Senado extinguiu a CPMF, o presidente Lula vem alternando declarações preocupantes sobre a sua derrota e manifestações alentadoras sobre o futuro sem o imposto do cheque. O presidente começou da melhor forma possível. Com uma prontidão incomum para os seus padrões, cortou pela raiz os rumores de que o superávit primário - a economia feita pelo poder público para pagar os juros da dívida - poderia ser reduzido como proporção do PIB para compensar parte dos R$ 40 bilhões de que o erário foi privado com o fim da CPMF. Os boatos haviam sido plantados por aqueles que, no governo, só querem um pretexto para mudar a política fiscal. Isso foi na quarta-feira, antes de “dar um pulo” à Venezuela para espairecer, trocando elogios com seu companheiro bolivariano. Já na sexta-feira, porém, Lula mostrava que levará tempo para digerir a perda política, ainda que se trate, como observou inicialmente com elogiável fair-play, de “coisas da democracia”. No primeiro palanque em que se viu - em São Bernardo, ao lado de outro derrotado, o governador José Serra -, o presidente já deixou o bom senso de lado. “Certamente, as pessoas que votaram contra não usam o SUS”, disparatou. “Se usassem o SUS, não votariam contra.” Como tantos de seus improvisos, também este não tem pé nem cabeça. Afinal, tampouco os 45 senadores que votaram a favor usam o SUS. No domingo, voltou à carga contra os políticos que não lhe fizeram a vontade na fatídica decisão de três dias antes. Abordado pelos jornalistas depois de votar no segundo turno das eleições no PT, atribuiu os sufrágios que acabaram com a CPMF a diversos fatores - menos um. Na sua versão: “Alguns senadores que votaram contra fizeram isso porque não querem que este governo dê certo, outros porque acreditam na teoria do quanto pior, melhor; alguns, com medo de serem cassados pelos seus partidos”, e concluiu: “Um pouco de tudo.” Um pouco de tudo, menos a hipótese que ele não admite, ou seja, a de que algum senador possa ter votado contra a CPMF por acreditar honestamente que o presidente está errado e que esse imposto é nefasto para a economia nacional. Inebriado pelos eflúvios deste “momento mágico que estamos vivendo”, ele não pode admitir que “seja coisa da democracia” alguém divergir dele de boa-fé. Felizmente, na sua constante alternância entre o bom senso e o disparate demagógico - que ele próprio explica com a metamorfose ambulante -, essa disparatada análise dos motivos dos senadores para votar contra a CPMF foi a conclusão de declarações que começaram com a alentadora reprimenda ao seu ministro da Fazenda, que, em entrevista à nossa colunista Sonia Racy e ao repórter Gabriel Manzano Filho, publicada no Estado de sábado, desmentiu o próprio presidente, elogiado em editorial daquela mesma edição, pela maneira sensata como reagira à derrota. Como se recorda, logo depois de anunciada a rejeição da CPMF, Lula não só se apressou a negar peremptoriamente a possibilidade de mexer no superávit primário, como também afastou a hipótese de uma nova CPMF. Na entrevista, o boquirroto ministro Mantega não apenas anunciou uma nova CPMF, mas também fez questão de anunciar que desta vez o “P” da sigla seria de permanente e não de provisória. Provisória, ele avisou, seria a medida com a qual o imposto seria implantado. Agora, depois do “pito” público que ouviu de Lula, como era de esperar, Mantega tenta, bisonhamente, desmentir o indesmentível. Não apenas o que disse na entrevista e foi gravado, mas até o “pito” de Lula, que é o que tem importância nesta história de metamorfoses governamentais. “Avalio que ele vai ter de me convencer da necessidade disso”, disse Lula na reprimenda que Mantega nega. “Ou seja, falou para vocês (jornalistas) e agora vai ter de colocar na minha mesa e eu vou decidir se precisamos ou não precisamos. Eu quero ver todas as contas.” Fez questão de relatar que orientou o ministro a “contar até dez”, pois “o momento é mais de reflexão do que de reação”, e aumentar a carga tributária “seria uma loucura”. Lula sabe que não tem nada a temer com a abolição da CPMF, quando a economia, cada vez mais aquecida, faz a arrecadação bater recordes. Salvo alguma catástrofe diferente das inventadas pelo governo para ganhar votos no Senado, em 2008 a receita, sem CPMF, será maior que a deste ano, com CPMF. |
Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, dezembro 18, 2007
O presidente e seu ministro
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