Entrevista:O Estado inteligente

sábado, dezembro 08, 2007

Museu de Londres exibe pedras preciosas

Feitas para brilhar

Entre diamantes, rubis e esmeraldas, museu de Londres
celebra o fascínio universal das pedras preciosas

Do ponto de vista gemológico, a humanidade se divide em três partes. Há os que não entendem o valor, efetivo e emocional, atribuído às pedras preciosas – a raridade, a beleza e o prestígio social que conferem não lhes bastam como motivos para o fascínio exercido por pedaços de carbono ou de cristal. E existe toda a imensa maioria, que dispensa explicações e se deslumbra diante de qualquer coisinha brilhante. É para estes que se destina a nova galeria do Museu de História Natural de Londres. Cercados de medidas extraordinárias de segurança na galeria chamada The Vault (A Caixa-Forte), cintilam pedras e metais preciosos do mundo inteiro, lapidados ou no estado em que foram encontrados nas entranhas da terra. São diamantes de todas as cores, esmeraldas, safiras, rubis, pepitas de ouro e até uma lasca de Marte que, na forma de meteorito, despencou no Egito em 1911. "As peças foram selecionadas por sua beleza, raridade e história", diz Alan Hart, curador do museu criado em grande parte com doações da terceira, minúscula mas importantíssima, das parcelas mencionadas no início: a dos que não só se encantam como fazem qualquer loucura para conseguir pedras excepcionais.

As preciosidades gemológicas brasileiras estão representadas por topázios brutos e lapidados, incluindo um da deslumbrante variedade chamada imperial – um amarelo cor de fogo – de quase 3.000 quilates, a maior pedra da exposição, e uma fantástica turmalina em dois tons de azul. Não é do Brasil, mas tem conexões históricas com o país, a esmeralda em estado bruto, uma das maiores do mundo, extraída das minas de Muzo, na Colômbia, que foi oferecida de presente ao duque de Devonshire por dom Pedro I em 1831, quando já havia voltado para Portugal. Também chamam atenção os berilos (entre os quais uma água-marinha lapidada de quase 900 quilates), as opalas, as safiras e as ametistas. Destas, a que tem história mais bizarra é a chamada Heron-Allen, doada ao museu por seu último e atormentado dono com a recomendação de ser tratada com muita cautela, por ser "triplamente amaldiçoada" – a imaginária maldição que acompanha algumas pedras é um dos mitos mais recorrentes do gênero.

Também é imemorialmente associada às pedras preciosas a idéia de que têm virtudes místicas ou espirituais – Platão achava que eram produzidas por uma espécie de ação inteligente provinda das estrelas. A metáfora de pureza e espiritualidade é presente sobretudo entre os diamantes, a pedra preciosa com o maior grau de dureza. No museu de Londres, há diamantes notáveis, como o Estrela da África do Sul, e as extraordinárias pedras da Coleção Aurora. São 296 diamantes raríssimos, em doze variedades de cores (dos cerca de 80.000 quilates de diamantes brutos extraídos por ano, só 0,01%, ou um a cada 10.000, é colorido). "Pedras como essas não podem ficar aprisionadas em um cofre escuro, sendo apreciadas só raramente, e por poucos", diz Alan Bronstein, um dos dois donos da coleção, que foi emprestada ao museu. Bronstein e Harry Rodman, ambos comerciantes de diamantes, passaram 25 anos buscando pedras para sua coleção. O primeiro descreve como nada menos do que uma epifania o momento em que viu um deslumbrante diamante amarelo e descobriu que não conseguiria mais parar.

"Todo dia acordávamos pensando: qual nova cor vamos achar hoje?", conta Bronstein, que compara a emoção de encontrar uma espécie rara à de "chegar ao topo do Everest". Bronstein e Rodman são a comprovação do fascínio das pedras e dos metais preciosos, elementos que não curam, não alimentam, não constroem e, fora algumas exceções de uso industrial, não têm nenhuma utilidade concreta. Já os usos simbólicos são múltiplos. Um deles foi descrito em 1514 pelo rei Luís XII ao emissário inglês com quem discutia sua proposta de casamento a Mary Tudor, irmã de Henrique VIII. Viúvo de 52 anos, o rei mostrou dois cofres, um contendo 56 rubis e diamantes raros e outro repleto de colares, braceletes e outras jóias. "Tudo isso é para minha esposa", disse. "Mas ela não vai levar tudo de uma vez, pois eu deverei ganhar muitos beijos e agradecimentos em troca." O real tiozão casou-se com a linda princesa de 18 anos (mas as pedras preciosas não ajudaram: morreu menos de três meses depois).


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