Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, dezembro 12, 2007

Míriam Leitão - PIB em alta


PANORAMA ECONÔMICO
O Globo
12/12/2007

O número que será divulgado hoje de PIB do terceiro trimestre vai ser bom. Será superior a 1,2% em relação ao segundo trimestre; e talvez 5%, quando comparado com o mesmo período do ano passado. Mesmo se for um pouco menor, está se confirmando o 5% como o PIB de 2007. Mas há dados preocupantes na economia. Um deles é a inflação de alimentos, que pode fechar o ano em 12%.

A economia foi acelerando ao longo do ano, puxada por investimentos e consumo das famílias. Os investimentos estão muito baseados em importação de máquinas e equipamentos, aproveitando-se o dólar baixo. O consumo das famílias é puxado pelo crédito mais barato e mais fácil e pelo aumento de renda.

A inflação não é provocada pelo crescimento do PIB. Os preços que mais estão subindo são os de alimentos, afetados por problemas climáticos. O feijão está um espanto de caro. Em algumas coletas feitas por empresas, diz o professor Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio, chegou a subir 60% no atacado no mês passado. No Índice de Preços por Atacado da FGV, o feijão subiu 33% em outubro e 37,6% em novembro. O milho subiu 15% em outubro e a carne, 6,7%.

- No IPCA, em 2007, alimentos devem fechar com 12%. Isso para um índice geral que vai ficar em 4,3% - comentou o professor.

No ano, o feijão carioca está tendo um aumento de 130%; a carne acumula alta de 30%; hortaliças, 26%; leite, 20%. Um dos poucos que teve queda foi o açúcar, de 25%.

- Parte disso é choque externo, mas o feijão é só nosso, e é o produto que mais subiu. Há problemas climáticos aqui também - diz Luiz Roberto Cunha.

Os dados de crescimento econômico estão tão mais fortes que os analistas estão revendo suas previsões para cima. A MB Associados acha que o crescimento do ano será de 5%. Mesma aposta que faz o Credit Suisse. Luiz Roberto Cunha calcula que o dado a ser divulgado hoje deverá ser de 4,6% no terceiro trimestre contra o terceiro tri do ano passado. Mas ele acha que, no último trimestre, o crescimento está claramente se acelerando, como mostrou a produção industrial de outubro. No mês retrasado, todas as regiões tiveram crescimento na indústria.

As máquinas têm sido destaque nas pesquisas industriais do IBGE. O que acontece é que as máquinas agrícolas estão sendo comparadas com uma base muito baixa e, portanto, vêm apresentando resultados espetaculares. Os dados levantados pela Abimaq, a associação do setor, são também bons, mas menores. Mesmo com o dólar baixo, o que facilita a importação de equipamentos, o faturamento nominal da indústria de máquinas cresceu 12,5% até outubro. O nível de utilização da capacidade instalada saiu dos 80,2% para 84,53%. E mesmo a exportação cresce a 23%. No caso das máquinas agrícolas, os números da Abimaq são mais robustos ainda. O faturamento subiu 32,5%; as exportações 40% e a capacidade instalada saiu de 63,28% para 80,22%!

A produção de vidro, um item utilizado nos mais diversos setores, está com forte crescimento. Boa parte disso se deve ao fornecimento para construção civil, automóveis e bebidas. Como os três vão muito bem, a demanda por vidros tem aumentado bastante. O crescimento no ano de vidros para construção vai ficar acima dos 10%; podendo chegar a 12%. No caso de bebidas, também deve ficar alto, perto dos 8%. O que está acontecendo este ano é uma combinação não só de aumento no volume vendido, mas também nos preços. Esta situação positiva deve se manter ainda nos próximos dois anos. Para 2008, a Abividro espera que o crescimento seja, de novo, acima dos 10%.

No Brasil, são apenas cinco fábricas fornecendo todo esse vidro, mas isso tende a mudar com tamanho aumento da demanda. Entre os problemas que o setor já está enfrentando estão questões de infra-estrutura, problemas nos portos, falta de contêineres, estradas esburacadas e insegurança energética, já que boa parte da indústria depende de gás.

As vendas de carro, este ano, explodiram: um aumento de 27%, o que, para um bem de alto valor, é impressionante. A produção aumentou 13,9%, e as exportações caíram 7,5% em volume, mas subiram 7% em valor. Esse desempenho leva alguns analistas a se questionarem sobre que fôlego tem a indústria para continuar nesse ritmo. O setor de pesquisas econômicas do Bradesco fez uma pergunta no seu "Destaque Diário": "A indústria automobilística terá capacidade instalada em 2008 para fazer frente ao crescimento de produção?" A Anfavea acha que, no ano que vem, vai continuar crescendo, apenas num ritmo um pouco menor: 17,5% de aumento de vendas e 8,9% de produção. Se assim for, o Bradesco calcula que se atingirá 93% da capacidade instalada. Isso deve levar, segundo o banco, a novos investimentos.

Não é exatamente esse aumento da demanda que está pressionando a inflação. A razão, como disse, são os alimentos. Mas a situação para o ano que vem é bem mais complicada.

- Este ano, o que salvou foi a inflação de preços administrados, que ficou bem baixa e deve fechar 2007 em torno de 2%. Foi isso que jogou o preço para baixo. Energia, por exemplo, chegou a entrar no índice com queda. Mas os IGPs vão ficar em 7% - alerta o professor Luiz Roberto Cunha.

Como são os IGPs que reajustam os preços administrados, no ano que vem, as tarifas não vão mais ser a salvação da lavoura. Mesmo que os preços caiam, não se acredita que caiam tanto. Logo, o espaço para a queda dos juros, dentro do sistema de metas de inflação, está muito pequeno. Enfim, o país está com um bom crescimento, mas tem algumas luzes amarelas acendendo no painel.

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