Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, dezembro 21, 2007

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

Hora dos profissionais

Existe uma forma simples de enfrentar o desafio da inflação: um aumento de 3 a 4 pontos na taxa Selic, ao longo de 2008

A ACELERAÇÃO do crescimento está criando um quadro macroeconômico altamente complexo e muito perigoso. Defino-o de forma muito simples: superaquecimento da demanda. Vamos entrar em 2008 com um risco de inflação elevado e essa questão já está no topo das prioridades do mercado. No momento em que escrevo esta coluna, os juros de um ano apresentam um prêmio de 200 pontos-base sobre a taxa Selic definida pelo Banco Central.
Diferentemente do que ocorria no passado, essa ameaça inflacionária começa a aparecer em um ambiente de elevada confiança dos agentes econômicos. O sistema bancário prevê aumentar a oferta de crédito a taxas superiores a 20% no próximo ano, os empresários continuam a investir com entusiasmo e os consumidores foram definitivamente às compras. De outra parte, os gastos do governo estão fora de controle em um momento em que o bom senso econômico sugere uma diminuição da pressão sobre o nível da atividade econômica. Tudo isso, colocado em um caldeirão já em ebulição nesta virada do ano, aponta claramente para um risco de aumento da inflação.
Até agora os aumentos de preços -excluídos alimentos- têm sido moderados por conta do incrível aumento das importações de bens duráveis e bens de capital. Mas o aumento de renda dos brasileiros já provoca uma elevação na demanda de bens e, principalmente, serviços, que não são protegidos pelas importações. Dou a meu leitor um exemplo bem simples. A construção civil em mercados mais maduros como São Paulo está atingindo um nível de atividade só visto no auge do sucesso do chamado SFH (Sistema Financeiro da Habitação). A televisão mostrou recentemente que o lançamento de novas unidades na Grande São Paulo nos últimos dois meses de 2007 será igual ao total do ano de 2003. Não é por outra razão que a diária de um auxiliar de pedreiro já subiu mais de 50%, além de uma marmita para o almoço de graça.
Os números do IPCA-15 de novembro, recém-divulgados pelo IBGE, mostram de maneira mais clara esse vazamento da inflação para setores de serviços e outros produtos que não podem ser importados. O economista Fabio Ramos, que trabalha comigo na Quest, espera um IPCA fechado de 4,5% para o ano de 2007 e de 4,7% -portanto, acima do centro da meta- para os 12 meses terminados em fevereiro de 2008.
Existe uma convergência entre uma análise puramente macroeconômica e a evolução dos números da inflação nestes últimos meses. Todos nós sabemos que a política econômica do presidente Lula é uma versão pirata do software herdado do período FHC. Até agora tem funcionado de forma eficiente. Mas esse desafio novo que deverá ser enfrentado no próximo ano não está desenvolvido com profundidade no software que roda hoje no governo, até porque não se teve essa conjuntura nos anos FHC. Pela primeira vez o governo atual terá que enfrentar o desconhecido na gestão da política econômica. E teremos o primeiro teste real para o governo Lula e seu mosaico de idéias no campo econômico.
Existe uma forma simples de enfrentar o desafio da inflação: um aumento de três a quatro pontos percentuais na taxa Selic, ao longo de 2008, para desaquecer a economia via canal de crédito e moderação da demanda privada. Na falta de medidas mais articuladas para moderar o crescimento do consumo interno, o trabalho certamente recairá sobre a taxa de juros definida pelo Banco Central.

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