Entrevista:O Estado inteligente

sábado, dezembro 15, 2007

Embaixador aposentado acusa atual gestão do Itamaraty de ter viés petista

Procurado, ministro Celso Amorim se recusa a comentar acusações
O GLOBO
Alan Gripp
BRASÍLIA.

Um e-mail que circula há duas semanas com duras críticas ao ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, gerou mal-estar tornou-se assunto polêmico no meio diplomático brasileiro.

Trata-se de uma carta endereçada a Amorim, escrita pelo embaixador aposentado Marcio de Oliveira Dias, que representou o Brasil na Bélgica, no Paraguai e no Egito, entre outros países. Dias acusa o ministro de comandar o Itamaraty com viés petista e de romper com tradições históricas da instituição em nome de questões ideológicas.

Apelo para que Amorim reveja posições
No texto, Dias faz um apelo para que Amorim reveja sua postura, citando dois líderes petistas: o deputado cassado José Dirceu e o assessor especial da Presidência Marco Aurélio Garcia. “(...) tomo a liberdade de sugerir que use essa inteligência para analisar com equilíbrio os rumos que sua gestão está dando à Casa. Para ver que o PT passará (e breve, espero), assim como passou regime militar, mas que o Itamaraty deve permanecer. Os José Dirceus, os Marco Aurélio Garcias e outros sicários da vida são, felizmente, transitórios. transitórios.

O Itamaraty era, pensávamos, permanente”.

Ao GLOBO, Dias explicou que se referiu, entre outros assuntos, ao posicionamento condescendente do Itamaraty com governos com traços de ditaduras na América do Sul.

Há uma excessiva tolerância com a Bolívia e a Venezuela, movida por razões ideológicas.

O que sempre moveu o Itamaraty, antes disso, foi o interesse nacional, que agora ficou em segundo plano — disse.

— Nunca houve um esforço dessa maneira para pôr a Casa a serviço de um partido.

Dias disse que promoções no Itamaraty vêm sendo feitas com critério político, quebrando a tradição da instituição.

Ele não citou nomes. Afirmou ainda que “nunca, em momento algum do Itamaraty, houve tantos embaixadores aposentados voluntária e precocemente”, contrariados com os rumos da atual gestão. Ele mesmo pediu aposentadoria cinco anos antes da data compulsória.

Na carta, Dias critica duramente o comportamento de Celso Amorim após a morte do embaixador Mário Gibson Barboza, no fim de novembro.

Ele diz que o ministro só manifestouse na “undécima hora” ao participar de uma missa encomendada por amigos da família, na Candelária. E que, “pelas melhores tradições da Casa”, a missa deveria ter sido uma iniciativa de Amorim.

Dias especula que o comportamento de Amorim teria relação com o fato de Gibson Barboza ter sido ministro no regime militar.

As críticas também são direcionadas ao secretário-geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães.

“Lembro a vocês (Amorim e Guimarães) que a personalidade e a autoridade moral do falecido embaixador foram diretamente responsáveis pela manutenção da dignidade do Itamaraty naquele terrível período”, diz um trecho da carta.

Carta foi escrita após morte de Gibson Barboza
O embaixador, de 69 anos, disse que resolveu escrever a carta depois da morte de Gibson Barboza. E que recebeu cerca de 50 mensagens de apoio, mas não uma resposta de Amorim.

O ministro não comentou a carta. Em 29 de novembro, Amorim divulgou nota de pêsames pela morte de Gibson Barboza.

— Me irritou aquela palhaçada que fizeram. (Barboza) Foi o homem que negociou Itaipu. O Itamaraty desconheceu a sua morte. A única homenagem a Gibson feita em Brasília foi uma missa encomendada pela associação dos embaixadores — disse Dias.

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