O relator do terceiro processo (que resultou na terceira absolvição) de Renan Calheiros, Jefferson Peres (PDT-AM), escreveu e disse que havia encontrado "indícios robustos" que justificavam a cassação. O problema é que ninguém no Senado estava preocupado, àquela altura do processo, em indícios ou provas. A questão era outra. Aliás, as questões eram outras.
Renan suportou quase duzentos dias de crise e pancadaria, na vida pública e na privada. Licenciou-se da presidência do Senado no dia 11 de outubro, sabendo que a licença era sinônimo de renúncia, mas mantendo o cargo porque este passou a ser o seu grande, senão único, trunfo. Era dar a presidência para salvar o mandato de senador. Vão-se os anéis, ficam os dedos...
A renúncia à presidência foi o gesto decisivo, na hora decisiva. Renan a anunciou justamente no início da sessão do plenário marcada para votar sua cassação no processo em que era acusado de usar "laranjas" para comprar rádios e TVs em Alagoas com o usineiro João Lyra, o sócio que virou inimigo.
Ao renunciar, Renan seguiu os passos de dois de seus antecessores na presidência do Senado: Jader Barbalho (PMDB-PA) e Antonio Carlos Magalhães (então PFL-BA). Um voltou como deputado e ativo articulador de bastidores pró-governo Lula. O outro, ACM, voltou como senador e morreu neste ano com mandato.
Renan, assim, salva sua carreira política, ou pelo menos os cacos que restam dela, suficientes para uma boa colagem em Alagoas e a volta ao Congresso nas próximas eleições. Resta saber, agora, qual a profundidade e quais os alvos de sua mágoa e o que ele pretende fazer com ela daqui em diante.
Ele não chegou à presidência do Senado à toa. Tem experiência, tem liderança, tem amigos e, sobretudo, tem informações. Já andou escarafunchando suspeitas contra adversários seus em Goiás. Pode estar preparando o troco contra os colegas que participaram de sua execração em praça pública.
A crise, portanto, não acabou, apenas muda de figura. Desde a terça-feira, Renan sai dos holofotes e passa aos bastidores, para seu alívio e para certo sobressalto em outras áreas. O foco passa a ser a disputa no PMDB pela sua sucessão na presidência do Senado e a votação da CPMF. Como pano de fundo, há a ameaça ainda velada de novas denúncias por aí. O novo presidente, seja quem for, que se prepare.