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Drauzio Varella: a maior violência é ''''condenar os pobres a terem filhos que não conseguirão sustentar''''
Drauzio Varella é, na sua essência, um humanista. E um humanista tímido. Relutou em dar esta entrevista, em falar de si mesmo. "Mas como você escreve um livro chamado Médico Doente, que sai em dezembro, sobre sua quase morte, e se comunica tão bem na televisão?" "É diferente", resume. Pontualíssimo no nosso café da manhã no Hotel Renaissance, Drauzio não se sente à vontade. Conversa vai, conversa vem - seu café se resume a uma fruta e café com leite - e o diálogo flui.
Qual o principal problema do Brasil?
"Falta de planejamento familiar para os mais pobres. As mulheres analfabetas têm em média 4,4 filhos. Na penitenciária feminina a coisa mais difícil é encontrar uma moça de 25 anos que não tenha três ou quatro. Aos 30 anos, algumas chegam a sete ou oito", destaca. "De cada 100 crianças, no Brasil, só 11% são das classes A e B. Praticamente a metade, 47%, são da classe E, com renda per capita abaixo de R$ 75 por mês. Existe violência maior do que condenar os mais pobres a se encherem de filhos, que não conseguirão sustentar?", pergunta.
Mas ele não esquece o outro lado da história: "O Brasil melhorou muito", compara. "Acabamos com a poliomielite, o sarampo. Tornamos raras doenças que matavam milhares. O programa de vacinação do Brasil é o maior programa de vacinação gratuita mundial. O da aids é elogiado no mundo inteiro." E esses programas dão certo "porque são para todos os brasileiros". Pois, se forem só para os pobres, "estão fadados ao fracasso".
No seu novo livro você conta a experiência de ter passado por uma febre amarela. Você achou mesmo que ia morrer?
Achei. A febre amarela é uma doença muito grave; mata tanto quanto o vírus do Ebola. Destrói o fígado, o vírus se espalha pelo corpo inteiro, ataca o cérebro, os rins, o coração. Não tem tratamento específico. Eu peguei a febre na Amazônia, porque minha vacina estava vencida havia 20 anos.
Médico, com vacina vencida?
Mas o que você conta neste livro? Há médicos que, quando ficam doentes, piram. O bom médico não deve perder a capacidade de análise diante da doença que o atinge. Por outro lado, como você conhece os códigos de comportamento profissional, mesmo que insistam em dizer que sua aparência está ótima e tudo acabará bem, você sabe que é mentira. Minhas funções hepáticas chegaram a uma situação da qual eu não havia visto ninguém escapar com vida. Achei que ia entrar em coma nas horas seguintes.
Quis tomar alguma providência em relação à família?
Eu pensei, mas não o fiz. Estava com a vida organizada. Achei que não precisava alarmar minha mulher e minhas filhas. A realidade iria se encarregar da aceitação. Fiquei hospitalizado 21 dias, 3 dos quais achando que ia morrer. No primeiro deles, preocupado com a possibilidade; no segundo, com quase certeza; e no terceiro, com certeza absoluta. No quarto dia, acordei um pouco melhor e a expressão de meus médicos mudou radicalmente.
Como seus pacientes encararam essa sua fragilidade?
Alguns disseram que se sentiram inseguros. Uma coisa natural. Apesar de São Paulo ter médicos melhores do que eu, a relação médico-paciente é uma questão de confiança. São relações muitas vezes íntimas, estabelecidas no decorrer de anos.
Como você optou pela oncologia?
Quando me formei, queria fazer Saúde Pública. Não consegui. Tinha casado e o salário de sanitarista mal dava para o aluguel. Depois de um tempo meio perdido, optei pela oncologia e nunca me arrependi.
E como você começou a escrever?
Depois de trabalhar sete anos no Carandiru, comecei a escrever algumas histórias para que não se perdessem. Pensei em fazer uma coluna policial, achei que podia ser interessante. Mas ao juntar as histórias, percebi que, reunidas, elas poderiam dar um livro.
O que mais o surpreendeu ao entrar no Carandiru?
Foi quando percebi que a prática da medicina naquele ambiente impunha respeito. Eu tinha liberdade total dentro da cadeia e nunca me senti inseguro. Os presos sabiam meu nome, me cumprimentavam.
A violência dentro dos presídios não o impressionou?
Ao contrário do que muitos pensam, em ambientes confinados a violência diminui. Isso não acontece apenas com seres humanos, mas com todos os primatas. Quando há restrição do espaço físico surge a necessidade de leis mais fortes e punições mais severas. Os próprios detentos percebem que se não contiverem a violência, instala-se a barbárie.
E como atender tanta gente?
O atendimento era surreal. Imagine uma cadeia com 7 mil pessoas. Se 5% tiverem problemas, você tem que atender 350.
Os detentos pediam calmantes?
Na cadeia feminina em que trabalho agora, pedem o tempo todo. Na masculina, nem tanto. Mas eu quase nunca receito.
O sistema carcerário de Primeiro Mundo é muito melhor?
Eu conheci três cadeias nos EUA e duas na Suécia. Com essa experiência limitadíssima, posso dizer que preferia estar preso no Carandiru do que numa delas. Na Califórnia, o sistema é tão rígido que se você roubou um toca-fitas, é condenado a uma pena pequena. Roubou o segundo, pega de oito a nove anos. Terceiro? 25 anos.
Algum cadeia regenera?
Temos um impasse sério, uma sociedade desigual em que só os pobres vão presos. Fabricamos bandidos em grande número, mas queremos tirá-los das ruas para não sermos assaltados. Até hoje, não encontramos outra forma mais racional de lidar com o problema do que trancá-los em cadeias superlotadas.
Como você vê o Brasil daqui alguns anos?
O Brasil melhorou muito. Veja na minha área. Em 1967, em um plantão de 12 horas do pronto-socorro de pediatria, no Hospital das Clínicas, morriam de 2 a 3 crianças. Aos 7 anos tive uma nefrite e meu pai me levou ao pediatra pela primeira vez. Ao voltar para casa, a molecada da rua me cercou para saber como era ser atendido por um médico. Hoje a cidade de São Paulo tem 10 milhões de habitantes e você não encontra uma criança que não tenha acesso ao pediatra. Se os pais forem cuidadosos, você não encontra uma criança que não seja vacinada. Nós pegamos um país que tinha 50 milhões de habitantes na década de 50, dos quais 70% a 80% viviam no campo, urbanizamos e multiplicamos por 3 essa população. Ainda assim, fomos capazes de proporcionar alguma educação (com escolas sofríveis, é verdade) e atendimento médico, muitas vezes precário, mas que atinge a maioria da população. Foi um esforço enorme para o País. Hoje, quando uma pessoa morre na fila do pronto-socorro, sai no jornal. No passado, morte na fila era regra. Acabamos com a poliomielite, o sarampo e tornamos raras doenças que matavam milhares. O programa de vacinação do Brasil é o maior programa de vacinação gratuita mundial. O da aids é elogiado no mundo inteiro. Esses programas dão certo porque são para todos os brasileiros. Políticas públicas destinadas exclusivamente para os pobres estão fadadas ao fracasso.
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Paulo Mercatto
Depois de um enfarte, Paulo Mercatto virou atleta e atravessou o Canal da Mancha a nado. E ficou sabendo, semana passada, que foi o recordista na sua faixa etária (acima de 50 anos) entre as 250 pessoas de 50 países que fizeram o mesmo esforço. "Foi uma alegria só." Próximo passo: quer lançar a campanha TBC - Tire a B... da Cadeira - para motivar os 53% de brasileiros sedentários e os 40 milhões de fumantes a seguirem seu exemplo.
Na frente
FHC vai falar sobre a cultura das transgressões e o senador Aloizio Mercadante sobre gastos públicos, no almoço de fim de ano do Instituto Etco. Terça-feira, na FEA-USP.
A Mercovino, do usineiro André Biagi, deixa de ser apenas uma distribuidora e importadora de vinhos para o interior de São Paulo, para atuar em todo o País. Biagi pretende que ela seja uma das maiores importadoras do País.
Está marcado para 2 de fevereiro o bota-fora de Gal Gosta de sua casa do Rio Vermelho, em Salvador. A cantora, que já está instalada em um luxuoso apartamento do Corredor da Vitória, escolheu o Dia de Iemanjá para a despedida.
A Colméia realiza a partir de quarta-feira, no MuBE, sua 13.ª Feira de Natal.
Alencar Burti, presidente da Associação Comercial de São Paulo, comanda na sexta-feira a festa de 113 anos da entidade. Com direito a missa na capela do Pátio do Colégio.
Os hotéis do Brasil estão em alta. O Estrela D?Água, em Trancoso, será o único do País a ingressar na lista do Relais&Châteaux de 2007/2008. Já o Ponta dos Ganchos, em Florianópolis, acaba de ganhar prêmio de excelência do Guia Condé Nast Johansens.
No lançamento do livro Pirandello, Assim Era se lhe Parece, de Wladimir Soares, no Bar Genial, na Vila Madalena, o apresentador Mièle chegou e foi focado por uma câmara de TV. Uma moça da equipe perguntou seu nome. "Mièle", foi a resposta. E ela: "Do quê?" Ele saiu rindo: "Isso você vai ter que descobrir sozinha."
