Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, dezembro 06, 2007

Clóvis Rossi - Uma Annapolis do Sul





Folha de S. Paulo
6/12/2007

Pego carona no apelo da mãe de Ingrid Betancourt, Yolanda, para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se disponha a ajudar a libertar sua filha, prisioneira há quase seis anos das Farc, a narcoguerrilha colombiana.
Vá além, presidente, e estude convocar uma espécie de Annapolis sul-americana. Annapolis foi a sede do encontro convocado pelo presidente George Walker Bush para tentar tirar do pântano o processo de paz no Oriente Médio, que hoje é exclusivamente processo de guerra.
Os resultados só se verão, se vierem, ao longo do próximo ano. Mas o simples fato de ter havido a reunião provocou movimentos. E movimento é tudo de que necessita o processo de integração sul-americano, menina dos olhos da diplomacia brasileira desde pelo menos o governo Itamar Franco.
Não pode haver avanços nesse processo quando o presidente da Venezuela ofende o da Colômbia e congela as relações com o vizinho. Ou quando os presidentes do Uruguai e da Argentina nem se falam.
Para não mencionar conflitos internos (na Bolívia e na própria Colômbia, motivo do apelo de Yolanda Betancourt a Lula).
O Brasil tem uma liderança regional natural, por seu peso demográfico, territorial e econômico. Lula é o presidente mais bem visto no subcontinente, segundo o mais recente Latinobarómetro. Ou ele assume os bônus e os riscos da liderança e do prestígio externo ou o processo de integração tão desejado pelo presidente brasileiro ficará indefinidamente no pântano.
Se Bush, que não tem, hoje, um décimo do prestígio de Lula, pôde chamar inimigos seculares para a mesma mesa, por que Lula não pode fazer o mesmo com governantes que não têm tantos séculos nem tanto sangue assim para discutir?
PS - Concedo ao leitor duas semanas de férias. Aproveite, mas não acostume, por favor.

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