Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, dezembro 06, 2007

Alberto Tamer - Construção pode sustentar crescimento





O Estado de S. Paulo
6/12/2007

Vivendo uma nova vida com uma política de prazos e juros que aumentou em 500% o volume de financiamentos em apenas um ano e meio.

É um fato auspicioso, pois o setor de construção civil emprega hoje 20 milhões de pessoas, principalmente mão-de-obra menos qualificada - já há falta - e representa 4% do Produto Interno Bruto (PIB) pela nova metodologia do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Pode ser apenas um começo, pois há um enorme potencial de crescimento de demanda de todas as classes. Este era, apesar de tudo, um setor até agora relegado pelos vários governos a um plano secundário.Estava contido por regras de financiamento e prazos desestimulantes.

Esta parece ter sido uma das metas do governo que compreendeu o peso de um setor cuja atividade não se restringe a si, pois gera enorme demanda de materiais acabados ou semi-acabados como cimento, cal, aço, alumínio, plásticos, madeira, tinta, sem contar tudo o que é preciso ser adquirido para tornar habitável um imóvel novo.

Mais importante, a construção civil é geradora intensiva de mão-de-obra menos preparada, amplamente existente no País.

Aumentando fortemente a oferta de emprego, gera renda, demanda e crescimento, o clássico ciclo que não cansamos de repetir.

CONSTRUÇÃO BRASIL E EUA

A exemplo dos Estados Unidos, onde, apesar da atual crise financeira, esse setor evitou, praticamente sozinho, uma recessão econômica que já se infiltrara, a construção civil pode impulsionar a economia brasileira.

Hoje, nos Estados Unidos, o setor é causa de uma possível recessão, que antes havia afastado, por causa dos exageros e descontroles na oferta de crédito hipotecário. Mas, mesmo assim, o mercado imobiliário cumpriu o seu papel no momento em que foi chamado.

Os benefícios que proporcionou nos anos de bonança, que criaram a bolha, não foram anulados. Aí está a economia americana resistindo inteira à turbulência financeira.

A produtividade, no trimestre, aumentou 6,3%, os salários 2,6%, sem provocar maior pressão inflacionária e o nível de emprego permanece em alta, menos acelerado, sim, mas em alta. Só para se avaliar o peso do setor imobiliário na economia americana, ele representa 5% do Produto Interno Bruto.

OUTRO CENÁRIO

No Brasil, a situação é bem mais favorável. Estamos começando num ambiente tranqüilo, enquanto terminam, ou dão uma pausa, num clima de semi-trauma.

“Tudo está preparado para tornar o setor imobiliário em um dos mais consistentes propulsores do crescimento econômico pela enorme irradiação que a construção civil promove.”

Não se trata apenas de construir imóveis, mas absorver uma enorme gama de matérias-primas e produtos usados na compra de mobiliário e bens necessários para a habitalidade desses imóveis”, afirma à coluna Sergio Mauad, ex-presidente do Secovi, o Sindicato da Habitação, e um profundo conhecedor, há 41 anos, desse setor.

E VEM INVESTIMENTO EXTERNO

Mas por que tratar desse assunto em uma coluna de economia internacional? Porque além de ser um fato que ressurge, a construção imobiliária já se constitui em um forte atrativo de investimentos externos, algo verdadeiramente inédito no Brasil.

Hoje, o setor responde por 22,6% do valor de todos os novos lançamentos de ações (IPO, pela sigla em inglês) na bolsa, em 2007. E uma parte considerável foi capital estrangeiro, que está sendo investido pesadamente na área.

Atentem para isto: os investidores estrangeiros respondem, hoje, por cerca de 70% dos recursos investidos, hoje, na construção imobiliária! Há alguns anos, essa participação era praticamente nula.

Este é um campo que se abre para o Brasil.

FINANCIAMENTO, MAIS 500%!

A nova legislação aprovada em 2004 que criou regras quase “revolucionárias” para o mercado imobiliário, aumentou em nada menos que 500% o volume de financiamentos hipotecários até 2007.

Essa nova política continua atraindo um fluxo cada vez maior de compradores, o que explica o vigor atual do mercado em franca expansão.

Isso continua atraindo mais investimentos internos e externos quer via bolsa, de empresas estrangeiras que se associam às locais, ou em projetos isolados. Os estrangeiros descobriram o Brasil de cimento e aço...

“O setor de construção civil foi aberto para o mundo”, afirma Mauad.

Até agora, estima-se que esses investimentos são da ordem de US$ 7 bilhões só com a aquisição de ações de oferta pública. Há alguns anos, não eram nada, mesmo porque não tinham condições legais, nem interesse em vir para o Brasil, acrescenta Mauad.

E quanto aos investimentos internos, de empresas nacionais?

“Destes, em 2002, haviam sido investidos no setor R$ 2 bilhões, em construção de 30 mil imóveis; hoje, prevê-se fechar o ano, com R$18 bilhões e mais de 200 mil imóveis”, informa Celso Petrucci, diretor do Secovi, o sindicato que congrega as empresas imobiliárias.

São obras que não param de surgir, crescer, criando a cada mês milhares de novos empregos que, esclarece Sergio Mauad, atende principalmente à mão-de-obra menos qualificada - esse que existe em grande escala no Brasil -, mas agora também a um quadro crescente de engenheiros, arquitetos e pessoal de nível.

“As empresas estão contratando cada vez mais esse pessoal especializado.”

CRISE DOS EUA AQUI TAMBÉM?

Aqui, levanta-se a questão: não estaríamos caminhando para uma situação semelhante à situação dos Estados Unidos, onde o mercado cresceu, cresceu, o endividamento hipotecário agigantou-se e a bolha estourou? A resposta é não.

Mauad lembra que as regras de financiamento hipotecário no Brasil são rígidas até demais.

Ao contrário dos Estados Unidos com os empréstimos de alto risco (subprime), quando havia até declarações de rendimento falsas, no Brasil ninguém tem crédito hipotecário sem provar quanto ganha e quanto pode pagar do seu rendimento.

E trazendo a crise imobiliária dos Estados Unidos para sua verdadeira dimensão, Celso Petrucci esclarece:

“O mercado hipotecário americano está estimado em US$ 10,2 trilhões e destes, apenas 3% ou 4% são empréstimos de alto risco (subprime), enquanto que no Brasil o saldo de crédito hipotecário é de R$ 53,1 bilhões pelo Sistema Financeiro de Habitação (SFH) e, praticamente, nenhum poderia ser classificado de risco.”

O que estamos vendo é o ressurgimento de um setor que, por suas próprias características, vem se somar a mais este novo ciclo de crescimento econômico que estamos vivendo no País.

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