O Estado de S. Paulo |
4/12/2007 |
Dois fatos políticos do último fim de semana, de alguma maneira interligados, mas de sentidos opostos, têm potencial para gerar importantes repercussões na execução da política econômica nos dois últimos anos da administração Lula. O primeiro é a derrota do presidente venezuelano Hugo Chávez no plebiscito deste domingo, que rechaça seu projeto de se perpetuar no poder. Foi o jeito que o povo venezuelano encontrou para reforçar a intervenção do rei espanhol Juan Carlos, que, na cúpula de Santiago, perguntou a Chávez: “Por qué no te callas?” E o segundo é a percepção, consolidada pelas pesquisas divulgadas domingo pelo Datafolha, de que o PT não tem candidato forte à presidência da República em 2010. A derrota de Chávez tem tudo para gerar desdobramentos geopolíticos. É um duro golpe no seu projeto de comprar influência populista na vizinhança. Isso fortalece o modelo de “esquerda racional” praticado pelos governos do presidente Lula e da presidente do Chile, Michelle Bachelet. Sexta-feira, perante investidores de Nova York, o ex-presidente do Peru Alejandro Toledo havia apontado para esse efeito. É prematuro apostar em que a primeira guinada importante na América do Sul na direção da “esquerda racional” será dada pelo governo liderado pela presidente Cristina Kirchner, que tomará posse no dia 10. Mas suas declarações durante visita a Brasília logo depois de eleita deram indicações nesse sentido. Paradoxalmente, a falta de um candidato forte do PT tende a produzir efeitos bem menos racionais na condução da política econômica. Nestes seis anos de administração Lula, o PT desenvolveu enorme operação de ocupação de espaços na administração federal. São dezenas de milhares de cargos agora ocupados por militantes que, na hipótese de vitória da oposição, terão seu emprego ameaçado. Está em questão tanto sua influência dentro do governo como a saúde das finanças do PT. É da militância petista que provém a mais importante contribuição para o orçamento do Partido. Fora do governo, essa massa não terá como canalizar para os cofres partidários a mesma mensalidade de hoje. É essa ameaça que exige a viabilização urgente de um nome forte do Partido para disputar com a oposição as eleições presidenciais de 2010. A história recente do País não autoriza acreditar em que um presidente, ainda que fortemente popular, consiga transferir voto para seu candidato. Isso sugere que o PT terá de investir todas as suas forças para construir um candidato próprio. Ou seja, o governo federal precisa montar um esquema de expansão das despesas públicas, cujo efeito principal seja mostrar serviço para o eleitor em 2010. Esta é a principal razão pela qual ficou tão importante arrancar do Congresso a prorrogação da CPMF, cujas receitas estão previstas em R$ 40 bilhões no exercício de 2008. Obviamente, a oposição entendeu o papel que a arrecadação da CPMF teria no jogo eleitoral. E este é o principal fator que explica a dificuldade da tramitação do projeto do governo no Senado. Não é verdade que ainda há muita água para rolar. 2010 dependerá do que acontecer agora.2010 dependerá do que acontecer agora. Confira É só bagunçar - O psicanalista Paulo Sternich, de Teresópolis, observa que a coluna de domingo não levou em conta um jeito infalível de provocar a desvalorização do real. “Bastam indícios de mudança da política econômica: fritura do Henrique Meirelles (presidente do Banco Central), tolerância à inflação e ainda maiores gastos públicos.” “Com essas providências, do mesmo jeito que até agora houve enxurrada de entrada de dólares, haverá enxurrada de saída, estouro da boiada, efeito manada, e ataque especulativo contra o real.”
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Entrevista:O Estado inteligente
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