Entrevista:O Estado inteligente

domingo, dezembro 02, 2007

AUGUSTO NUNES SETE DIAS

Sete pedras no caminho

"Vocês não têm outro assunto?", irritou-se Ricardo Teixeira ao ouvir a pergunta que abriu a entrevista improvisada na manhã de segunda-feira. Ele estava no Palácio da Cidade para conversar com o prefeito Cesar Maia sobre a Copa de 2014. Pensava no futuro. Os jornalistas estavam lá para saber o que tinha a dizer o chefão da CBF sobre a tragédia ocorrida em Salvador no domingo. Para o cartola, pensavam num passado remoto.

Dez minutos antes do fim do jogo entre Bahia e o Vila Nova, diretores do clube abriram os portões para que mais torcedores engrossassem a multidão de 70 mil convivas da festa que não houve. O desabamento de um pedaço da arquibancada matou sete, feriu quase 200 e impôs ao País do Futebol o mais dramático domingo. Mas Teixeira não é de perder o sono por tão pouco.

"Estamos pesarosos pelos resultados", tentou virar a página, com a voz na fronteira que separa o tédio da exasperação. Perdeu de vez a paciência ao constatar que os jornalistas só pensavam naquilo. "Por que falar só do acidente?", subiu o tom Teixeira. "Vocês não querem falar de futebol, não? Vamos falar de futebol", desafiou. Para sorte do desafiante, os desafiados recusaram a proposta formulada por um homem que nada entende de futebol. Nunca jogou bola, nem na infância. Se subir num par de chuteiras, certamente vai cair de quatro.

O cargo que ocupa caiu-lhe no colo como parte do dote da noiva, filha única de João Havelange. Quando o casamento terminou, o alpinista conjugal já chegara ao cume da montanha. Descobrira que não era preciso entender de futebol para ficar por lá. Bastavam jogadas fora do campo.

O flamenguista Teixeira nunca decorou o nome completo do Flamengo, nem a escalação do time liderado por Zico. Mas aprendeu a escalar presidentes de federações estaduais e chama pelo prenome as figuras que mandam na Fifa. A Copa do Mundo de 2014 não é nossa. É de Teixeira.

Na segunda-feira, não estava preocupado com a tragédia, mas com a festa. Não via mortos, mas pedras no caminho. "Não vou dizer mais sem ler o relatório", esbravejou. "Vocês conhecem o relatório? Nem eu". Mentia. Teixeira conhece vários relatórios sobre o estádio administrado em parceria pelo governo estadual e pela cartolagem do Bahia. Todos anunciaram a tragédia.

Em 2005, a prefeitura de Salvador pediu a interdição da Fonte Nova. O pedido foi reiterado em 2006 pelo Ministério Público e, em setembro passado, pelo Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia. "O estádio foi inteiramente reformado", jurou o governador Jaques Wagner num programa de rádio. Ele driblou a verdade para garantir um jogo da Seleção na Bahia. Teixeira fingiu acreditar em Wagner, que agora resolveu implodir o alçapão assassino. Agora é tarde.

A Bahia de Jaques Wagner não merece a Copa que a CBF de Teixeira tampouco merece organizar. Os brasileiros querem só ganhar a Copa. Cartolas e políticos espertos só pensam em ganhar com a Copa.

Cabôco Perguntadô

Informações da leitora Simone Maillou sobre a multidão que serve a pátria no Palácio do Planalto deixaram o Cabôco de queixo caído: são mais de 3.300 funcionários. Eram 1.800 no governo Itamar Franco. Caíram para 1.100 com FH. O milagre da triplicação foi operado pelo Programa Desemprego Zero para a Companheirada.

E se todos resolverem aparecer no emprego num mesmo dia?, pergunta o Cabôco ao arquiteto Oscar Niemeyer. Cabe tanta gente ali? Ou a coisa vai desabar?

Um mistério a desvendar

O que teria levado o presidente da República a concluir que "quem tem medo da CPMF é sonegador", como anunciou à nação na quinta-feira? Duas explicações circulam na internet:

Primeira: Lula descobriu que os senadores Renan Calheiros, o maior pecuarista sem boiada do Brasil, e Romero Jucá, o fazendeiro do ar, trabalham em sigilo pelo fim do imposto.

Segunda: Lula descobriu que Paulo Okamotto, criador do cheque-presidencial, anda financiando a abstenção.

As duas fazem sentido.



Foice na cinta e martelo na mão

O venezuelano Hugo Chávez tem caprichado no papel de homem-bomba do subcontinente. Enquanto gasta bilhões de dólares em armamentos, promete mandar tropas à Bolívia quando o amigo Evo Morales quiser, ameaça tomar da Guiana o território de Essequibo, insulta o colombiano Álvaro Uribe e tira para dançar os narcoguerrilheiros das Farc. Os velhinhos da Irmandade dos Órfãos do Muro de Berlim acham que o Brasil deve preparar-se "para defender o solo pátrio". Não de Chávez. De uma invasão americana.

A rendição que desonra

Somados os deputados federais e os senadores, é diminuta a bancada dos parlamentares que se orientam todo o tempo por princípios éticos e morais, ouvem sempre com nitidez a voz do Brasil decente e permitem acreditar que até no Congresso existem políticos confiáveis.

O bloco hoje cabe numa mesa de botequim. Que ficará com duas cadeiras vazias se o gaúcho Pedro Simon e o amazonense Jefferson Peres se renderem ao governo e votarem a favor da prorrogação do imposto do cheque. Pensem nisso, senadores.

Yolhesman Crisbelles

A taça vai para três anônimos estudantes avaliados pelo Enem, autores destas frases selecionadas pelo escritor Deonísio da Silva:

1) A devassa da Inconfidência Mineira? Foi a Marília do José Dirceu, amante de Tiradentes.

2) O Brasil não teve mulheres presidentes, mas várias primeiras-damas foram do sexo feminino.

4) Bigamia era uma carroça dos gladiadores puxada por dois cavalos.

Qualquer um dos três pode acabar na Presidência.

[ 02/12/2007 ]

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