Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, dezembro 20, 2007

Alberto Tamer - Mais receitas para a crise


Alberto Tamer
O Estado de S. Paulo
20/12/2007

Mais previsões e receitas inventivas para conter o alastramento da crise imobiliária. Alan Greenspan, ex-presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), diz que o governo deveria socorrer logo os que estão em dificuldade, acabando de vez com essa história. É melhor absorver as perdas do que enfrentar uma ameaça mais séria de recessão. (Ele continua falando em risco de 50%, sem explicar bem como chegou a essa porcentagem.)

O secretário do Tesouro americano, Henry Paulson, refutou imediatamente. Socorro dessa ordem, de forma alguma. Não há justificativa para beneficiar os temerários que ousaram muito sem qualquer senso de responsabilidade confiando exatamente nisso: o socorro do governo.

Temos um problema, mas essa não é uma solução aceitável. Ontem, mais uma proposta. Desta vez do ex-secretário do Tesouro de Bill Clinton, Lawrence Summers. Por que não fazer um corte de impostos entre US$ 50 bilhões e US$ 75 bilhões? Ele critica todo mundo, bancos centrais, governo. O que se está fazendo é uma ação ineficiente para conter as forças recessionistas.

MAS O MUNDO AGÜENTA?

Respostas a essa pergunta não vêm animando muitos os que, como Summers (ele acha a situação muito séria), são profetas do apocalipse.

E é nessa resposta que se deveria concentrar mais atenção.

O Fundo Monetário Internacional (FMI), a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e o próprio Banco Mundial (Bird) prevêem que a economia mundial agüenta porque vem crescendo solidamente há seis anos, sustentada em grande parte pelos países emergentes, que estão bem. Só não dizem até quando. E este é um ponto a ser analisado.

Em entrevista à revista americana Newsweek, desta semana, Andrew Burns, economista do Banco Mundial, usa dados da instituição para mostrar o seguinte:

1 - Nos últimos quatro anos, o Produto Interno Bruto (PIB) mundial cresceu a uma taxa média de 5,2%, dois pontos acima das décadas de 80 e 90.

2 - Enquanto Estados Unidos e Europa ficaram para trás, a maioria dos países avançou. Aqui, números quase exuberantes.

3 - Entre 1980 e 2000, apenas 50 países estavam crescendo em torno de 5%; em 2006, nada menos que 104 passavam disso! O economista do Banco Mundial só se lembrava de três países, Zimbábue, Fiji e Tonga, com crescimento negativo.

É UM BOOM SENHORES!

Mais significativa ainda é a reação do respeitadíssimo professor da Universidade Harvard e ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional, Ken Rogoff: “Estamos num boom”, afirma ele à Newsweek, na matéria principal intitulada “Aqui as boas notícias”.

O crescimento mundial é generalizado, deve-se em muito à globalização, à adesão ampla à economia de mercado e ao fim do comunismo, que liberou as forças produtivas do Leste Europeu e da própria Rússia. Por exemplo, a Checoslováquia está crescendo 9% este ano, a Rússia simplesmente pagou, no ano passado, os US$ 22 bilhões que devia ao Clube de Paris e cresce a 5,8% neste ano.

FMI OCIOSO...

Tem mais, lembra a revista, em artigo que merece ser lido. Entre 2003 e março de 2007, nada menos que 82% dos países que buscaram socorro no Fundo Monetário Internacional pagaram suas dívidas e aumentaram suas reservas. A maioria está pondo as finanças em ordem e todos estão investindo muito.

Os investimentos estrangeiros no mundo dobraram entre 2003 e 2006 para US$ 1,3 trilhão, grande parte concentrados nos países emergentes.

E o Fundo Monetário Internacional vive no momento uma “crise existencial”, não tem muito mais o que fazer...

Para Rogoff, um aspecto importante nestes últimos anos é que “os bancos centrais ao redor do mundo estão mais profissionalizados do que costumavam ser”.

Ou seja, estão preparados para enfrentar a turbulência. Os US$ 501 bilhões injetados no mercado pelo Banco Central Europeu (BCE), num movimento coordenado com outros bancos centrais, confirmam isso.

ENTÃO ESTÁ TUDO BEM?

Não. Não se sabe, ainda, qual será o comportamento das economias emergentes diante de uma desaceleração mais forte na Europa e nos Estados Unidos. O crescimento dos emergentes depende, em grande parte, das exportações para esses dois principais mercados mundiais, que importam mais de US$ 2 trilhões por ano.

Cerca de 22% das exportações chinesas vão para os Estados Unidos e mais do que isso para a Europa.

O Ministério do Comércio chinês declarou textualmente, em nota oficial, no dia 15 de novembro, que uma desaceleração mais forte nos Estados Unidos seria “devastadora para as vendas externas e o crescimento do país”.

É porque os Estados Unidos absorvem mais de 20% das exportações chinesas que, por sua vez, representam hoje mais de 33% do crescimento nacional de 11%.

Não se sabe como as economias emergentes irão reagir, mas sabe-se que, mesmo recuando, elas continuarão sustentando um crescimento da economia mundial não muito distante dos 5% atuais.

O mundo não vai acabar com a crise imobiliária. Muito pelo contrário, vai muito bem, obrigado.

Que pena, não, senhores profetas do Apocalipse?

*E-mail: at@attglobal.net

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