Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, janeiro 18, 2013

Lula, o obsolescente, agora passa a assombrar Dilma Rousseff-Reinaldo Azevedo


Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente da República, como se sabe, reuniu-se anteontem com o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), a vice, Nádia Campeão, e 10 secretários municipais. Deu uma aula sobre como deve funcionar a Prefeitura, a necessidade de parcerias com o governo federal e do estado, as prioridades da gestão etc. Lula não exerce cargo nenhum nem mesmo no PT. Se o Apedeuta fosse rei do Brasil, como Elizabeth é rainha da Inglaterra, não poderia se entregar a essas larguezas. Ocorre que o homem tem vocação para monarca absolutista.

Fernando Haddad, que já é tratado por setores da grande imprensa paulistana, com menos de três semanas de mandato, como o maior prefeito de todos os tempos, abriu-lhe as portas, com o devido tapete vermelho. O prefeito Coxinha fez da Prefeitura um reduto do lulismo.

Se Haddad pratica a sujeição voluntária, com Dilma Rousseff será um pouco diferente. Na segunda, o monarca reúne integrantes do primeiro escalão do governo federal para tratar de política externa. Trata-se de um evento patrocinado pelo instituto que leva seu nome. Participam do encontro o ministro da Defesa, Celso Amorim (um lulista fanático), Marco Aurélio Garcia, assessor especial da presidente, e Luciano Coutinho, presidente do BNDES. Na plateia, estarão intelectuais petistas, ex-ministros, políticos os mais variados e convidados da América Latina. O Babalorixá de Banânia viaja depois para Cuba, onde está internado Hugo Chávez. Em fevereiro, já anunciou que passa a viajar pelo país, numa espécie de reedição das tais Caravanas da Cidadania.

Afinal, o que quer Lula? A resposta não é simples. Oficialmente, ele e seus sequazes dirão que estão atuando para fortalecer o governo Dilma, cuja reeleição, para todos os efeitos, não duvidem, ele defenderá. Perde, ademais, o seu tempo os que imaginarem que dá para investir numa eventual dissensão aberta entre a atual mandatária e o ex. Isso não vai acontecer.

A movimentação de Lula, no entanto, evidencia — muito mais do que apenas "sugere" — que ele não está contente com o papel de ex-presidente. Ora, para todos os efeitos, convenham, Dilma o representa. Foi feita candidata por ele, mantém um governo com uma maioria esmagadora de petistas, não cansa de exaltar as virtudes do antecessor etc. O país vive, sim, um momento de baixo crescimento da economia, mas é visível que isso ainda não se transformou em movimentos de opinião. Sem uma  oposição para politizar a crítica, Dilma segue sendo uma figura pública popular e faz, a despeito da própria gestão, um governo aprovado pela esmagadora maioria, segundo indicam as pesquisas ao menos.

Assim, escreva-se o óbvio: Dilma não corre risco político nenhum que tenha raiz na oposição ou na população. O governo segue com uma maioria folgada no Congresso, e a governanta tem a simpatia de boa parte da imprensa. Por que Lula precisaria percorrer o país? A liderança da hora, no seu terreno ideológico, chama-se Dilma Rousseff, goste ele ou não. Qual o propósito de um seminário-aula para alguns figurões do governo e do novo périplo pelo país?

Um só: lembrar que ele está no jogo e que é, de fato, o "criador da criatura". Ainda que Dilma negue, ainda que compareça em pessoa ao seminário, ainda que se deixe fotografar ao lado do Apedeuta, é evidente que um evento com essas características e com esses convidados agride a sua autoridade de presidente e lhe mina a credibilidade junto a setores importantes da sociedade.

Que se diga: ainda que Lula não tivesse a intenção de "pôr Dilma em seu devido lugar", isso se daria na prática, dada a dimensão que ele tem no partido. O seminário, em si, com aquelas personagens, já é um despropósito, mas ainda se pode condescender: "Ah, se institutos não fizerem coisas assim, farão o quê?" Mas e a nova "caravana"? Qual é o propósito?

Não há mensagem que Lula possa passar aos brasileiros que não esteja, hoje em dia, a cargo de Dilma, que o sucedeu, ungida por suas próprias mãos.  Ao tomar o lugar que cabe à presidente, o ex-mandatário ocupa a posição que avalia lhe caber por direito divino. Caso realmente decida percorrer o país, quando menos, Lula impõe à sua sucessora uma pauta. A fatura máxima dessa iniciativa levaria Dilma a abrir mão da reeleição em nome de um valor mais alto que se alevantasse: Lula!

Não, senhores! Desta vez, ele  não que sair pelo Brasil pra confrontar e afrontar "a direita"; desta vez, ele não sairá por aí a demonizar FHC e os "300 picaretas"; desta vez, ele não vai oferecer o seu PT como alternativa "àqueles que mandam nestepaizdesde 1500".

A única a ter seu prestígio desgastado com este Lula buliçoso é Dilma, por mais que ambos troquem publicamente juras de eterno amor e mútua admiração. Segundo pesquisas de opinião, justa ou injustamente, ela conseguiria se reeleger hoje por suas próprias pernas. O Apedeuta não suporta a ideia de que se tornou obsolescente. Por isso assombra a sua sucessora.

Reinaldo Azevedo


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