Nem o novo diretor-gerente do Fundo, Dominique Strauss-Kahn, foi poupado de seu comportamento inconveniente, embora tenha sido eleito com apoio do governo brasileiro e tenha assumido, publicamente, o compromisso de trabalhar por uma redistribuição significativa do poder político na organização. Já é bem conhecido, em Washington, o incidente que Nogueira Batista provocou durante visita do ministro da Fazenda, Guido Mantega, ao recém-nomeado chefe do FMI, ao interromper, sem a mínima cerimônia, a conversa para afirmar enfaticamente a Strauss-Kahn sua oposição às propostas em debate. O ministro tentou consertar a situação, mas o representante brasileiro, seu subordinado, insistiu em afirmar seu ponto de vista. Terminou em constrangimento uma visita programada para ser protocolar e de cortesia.
Esse tem sido o comportamento-padrão de Paulo Nogueira Batista Jr., tal como descrito por diretores-executivos e funcionários do FMI. Nada disso é segredo, embora o representante brasileiro procure reduzir os atritos a meras "discussões acirradas", por ele descritas como normais na instituição.
Nada disso surpreende quem conhece o engajamento ideológico do economista que o levou a tratar sempre o FMI como um instrumento de domínio do "império" capitalista, um bastião do neoliberalismo a ser destruído. Aliás, ele teve a honestidade de reafirmar essa posição assim que foi aprovada a sua indicação para o cargo de diretor-executivo da instituição, em artigo na Folha de S.Paulo sobre a concentração do poder no FMI e sobre sua missão no processo de reforma, como representante do Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Haiti, Panamá, República Dominicana, Suriname e Trinidad e Tobago. Não contou nenhuma novidade quanto à distribuição de poder na instituição, mas deixou clara sua disposição de enfrentar os "falcões"- expressão por ele atribuída a uma leitora - e de também dar as suas "bicadas". Depois de nomeado, continuou a escrever artigos sobre o FMI, como se a sua nova posição não lhe impusesse nenhum limite. Ao assumir o posto, já havia causado desconforto com sua disposição ostensivamente mais belicosa do que negociadora.
Em termos práticos, nada acrescentou ao trabalho desenvolvido, nas negociações, por seu antecessor, Eduardo Loyo, já empenhado na tentativa de produzir uma reforma bem mais ampla do que aquela admitida pelos governos do mundo rico. De fato, só inovou na criação de atritos, tratando com agressividade representantes de economias emergentes igualmente empenhados na campanha por uma reforma ambiciosa.
Sua atuação é particularmente daninha no momento, porque o Brasil assumiu em novembro a presidência do G-20 financeiro, formado pelas 7 economias mais desenvolvidas e 13 emergentes. Um dos assuntos mais importantes na agenda do grupo é precisamente a reforma do FMI, mas funcionários de vários países já se declararam incomodados por ter de participar de reuniões presididas pelo brasileiro.
Um dos primeiros erros de Paulo Nogueira Batista Jr. foi haver defendido a anticandidatura do checo Josef Tosovsky à posição de diretor-gerente do FMI, lançada pelo governo russo. Esse comportamento imaturo teve um custo para a imagem do Brasil, pois o governo acabou apoiando Strauss-Kahn.
Até o assessor da Fazenda para Assuntos Internacionais, Luiz Eduardo Melin, deixou de conversar com Paulo Nogueira Batista Jr. Melin será transferido para a chefia de gabinete do Ministério, trocando de lugar com Marcos Galvão.
Como dissemos, o comportamento do representante brasileiro não surpreende quem conhece a sua atuação no debate econômico. Quem conhece sabe que sua pretensão não é reformar, mas implodir esse grande moinho de vento dos Quixotes do politicamente correto. O ministro Mantega, evidentemente, conhece-o muito bem.