Entrevista:O Estado inteligente

sábado, dezembro 08, 2007

HDTV A frustrante estréia da TV digital

Estranha estréia

O início das transmissões da TV digital
em São Paulo prometia um espetáculo.
Para muita gente, foi um fiasco


Rafael Corrêa e Roberta de Abreu Lima

Alguns viram isso…

…e outros viram isso…
…mas ainda vai funcionar

A estréia oficial das transmissões da televisão digital brasileira começou por São Paulo na semana passada e foi frustrante. O presidente Lula usou uma rede nacional de emissoras para anunciar, como não poderia deixar de ser, "a melhor televisão digital do mundo". Ela começaria exatamente às 8 e meia da noite de domingo, dia 2 de dezembro. Fez-se, então, uma contagem regressiva: cinco, quatro, três, dois, um e..........! Nada... Os milhões de telespectadores de São Paulo que sintonizavam a cerimônia foram entregues à programação normal das redes – sem que se processasse nenhuma mudança transcendental na imagem. Nada parecido com o que se viu em 1972 com a entrada da TV em cores. Um dia a imagem era formada por cinza e preto. No outro, as cenas eram mostradas com suas cores naturais nos televisores preparados para isso. Por que a frustração com a TV digital de alta definição até agora?

As razões são óbvias, mas ficaram soterradas sob toneladas de ufanismo da propaganda oficial. As transmissões de alta definição realmente começaram como o previsto. A programação foi a mesma que trafegou pelo cabo e pela freqüência analógica tradicional, a VHF. As imagens de alta definição passaram a ser transmitidas, em freqüência UHF, exatamente no modo e na hora prometidos. Mas quem assistiu à TV digital em São Paulo? Pouquíssima gente. Apenas alguns vanguardeiros, que haviam comprado conversores, a antena correta e moram em bairros com "cobertura de UHF." Quem não preencheu todas as condições acima viu apenas mensagens como "Sem sinal" ou "Sinal fraco". Na melhor das hipóteses, viu imagens instáveis, como se sintonizasse uma emissora do planeta Marte.

O paulistano Marcio Leite foi um dos que compraram o conversor e ficaram a ver navios. "O aparelho veio com uma antena interna, que não funcionou", ele relata. "Fiquei andando pelo apartamento, segurando a anteninha em várias posições, mas o sinal não pegava de jeito nenhum." Às vezes, o sinal até pega, mas a imagem não fica boa. Marcelo Zuffo, coordenador do laboratório de sistemas integráveis da Universidade de São Paulo, informa que o problema está na transmissão. "Falhas na imagem ocorrem quando o sinal é enviado com potência baixa", ele diz. Algumas emissoras, como a Bandeirantes, explicam que seu sinal ainda está em fase de ajustes. Isso significa que, durante um tempo, não há garantia de que todos os canais que transmitem em sistema digital sejam captados pelos vanguardeiros tecnológicos.

Fabiano Accorsi
Leite: "Fiquei andando com a antena pela sala, tentando captar o sinal. Não deu certo"


A antena UHF é essencial para captar a TV digital – mas como escolher a antena adequada? Depende. Em muitos bairros paulistanos, a antena interna não é suficiente para captar o sinal digital. Segundo levantamento da Universidade Mackenzie, 52% dos domicílios que recebem o sinal analógico convencional da TV aberta em São Paulo utilizam uma antena externa, instalada no telhado das casas ou no topo dos prédios. O problema é que a maior parte dessas antenas foi projetada para captar apenas a freqüência VHF, que carrega o sinal analógico. Trocar a antena coletiva de um edifício para receber o sinal em UHF é uma solução que parece simples. Parece. Se o prédio for antigo e tiver abandonado a manutenção da antena porque os condôminos aderiram todos à TV a cabo, será necessário substituir os amplificadores, as caixas distribuidoras e todo o sistema de cabos para direcionar o novo sinal. Ainda assim, a TV pode não funcionar. Isso porque alguns pontos da cidade, localizados em regiões baixas e cercadas de prédios ou morros, fazem parte das chamadas "zonas de sombra", onde os sinais de UHF não pegam.

Como saber se a casa está em uma dessas zonas mortas? Só testando. Um bom indicador é que, em muitas dessas zonas, nem o sinal VHF das transmissões convencionais consegue chegar. Os assinantes de TV a cabo em breve receberão das operadoras a opção de alta definição por um custo de adesão em torno de 800 reais. Por esse preço, os canais a cabo cuidarão de todos os detalhes técnicos. No entanto, levará algum tempo até que a captação do sinal aberto gratuito de alta definição seja dominada pelos milhões de brasileiros não assinantes do cabo. São Paulo está sendo um laboratório dessa experiência. Ela deve ser menos penosa quando começar a se espalhar pelo resto do país, a partir de janeiro.

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