Trocas de bens e serviços com o exterior voltam a ficar deficitárias, o que recomenda redobrar esforço para baixar juros
O CRESCIMENTO da economia e a valorização do real são os responsáveis pela mudança de uma tendência de cinco anos nas contas externas. O Banco Central projeta que no ano que vem, pela primeira vez desde 2002, haverá déficit no saldo das trocas de bens e serviços entre o Brasil e o restante do mundo.A chamada conta de transações correntes é um indicador da solvência externa de um país. Nações que não conseguem obter com as suas exportações as divisas suficientes para cobrir as importações, o pagamento de juros e a remessa de lucros para o exterior vão se tornando vulneráveis ao longo do tempo. Ficam dependentes dos humores do capital financeiro internacional.
Não há motivo, contudo, para preocupação no curto prazo. O Brasil entra na zona de déficit porque sua economia demanda mais bens e serviços do exterior. As importações até novembro deste ano cresceram 31% em relação ao mesmo período do ano passado, enquanto as exportações avançaram 17%. O superávit comercial baixou 12%, atingindo 36,4 bilhões neste ano.
Produtos importados ajudam a controlar os preços internos e, assim, a assegurar a expansão do consumo, um dos fatores que lideram a aceleração do PIB -a média de estimativas de mercado já prevê que o crescimento da economia neste ano ficará acima de 5%. Ademais, parte relevante das compras ao exterior é composta de bens para investimento. Empresas importam máquinas para aumentar sua capacidade de produção, o que é positivo.
Segundo os manuais, a inversão no sinal das transações correntes deveria induzir à desvalorização do real. Com menos dólares aqui, os exportadores teriam um estímulo cambial para ampliar suas vendas ao exterior e, desse modo, reequilibrar a equação. Não é isso, porém, o que se espera para 2008.
Mesmo com redução no saldo comercial, o BC prevê que entrarão mais dólares no Brasil do que sairão -um superávit no fluxo financeiro de US$ 25 bilhões. Investimentos produtivos de multinacionais no país e aplicações de estrangeiros em títulos públicos e ações devem garantir mais um ano de abundância de dólares: tendência à valorização do real, portanto.
Esse descasamento de perspectivas entre o setor financeiro e o chamado setor real será preocupante caso se alongue por muito tempo, pois retardaria demais a reação dos exportadores. Desfazer logo os nós que impedem a convergência dos juros brasileiros com as taxas internacionais é o modo mais eficaz para evitar que o Brasil reincida no desequilíbrio externo crônico.