Entrevista:O Estado inteligente

domingo, dezembro 09, 2007

Alberto Tamer Mais um semana além da crise


Espera-se uma semana com pouca incerteza. Nem mesmo a reunião do Fed (Federal Reserve, banco central americano), que sempre causava tanta expectativa, deve surpreender; nunca os diretores membros do comitê de mercado aberto, inclusive seu presidente, Ben Bernanke, falaram tanto à imprensa nesses últimos dias, indicando claramente uma redução da taxa básica de juro.

Até quinta-feira, falava-se em 0,50 ponto porcentual, mas, após a divulgação de dados favoráveis no mercado de trabalho - em novembro, 94 mil novos empregos foram criados e houve aumento de 0,5% nos salários (agora de US$ 17,63 a hora) -, acreditava-se mais em 0,25 ponto de redução.

Os níveis de emprego, 3,8% mais do que no mesmo período do ano passado, não estão pressionando a inflação. A não ser que alguma outra instituição financeira de porte venha a anunciar grandes perdas, o que parece pouco provável, pois o mercado está sendo agora muito vigiado e sob a mira do Fed e da Secretaria do Tesouro, podemos prever dias mais calmos até o fim do ano. Evidentemente, pode haver surpresa, mas esse é um risco bem menor do que havia há dois meses.

É exagerado dizer que a crise passou, as ondas continuarão indo e vindo, até transformarem-se em marolas, mas não é nenhum otimismo leviano afirmar que o pior passou.

As bolsas mundiais vão continuar movimentando-se em gangorra, mas terminarão o ano ou com lucro ou sem perdas maiores, aqui, em Wall Street ou em Londres.

A DISTENSÃO DO PIOR PASSOU

O cenário financeiro externo vive neste momento num clima de distensão, de semi-ressaca após sustos que levaram alguns mais nervosos a acreditar no pior.

Nada disso aconteceu e os riscos que venham a ocorrer são cada vez menores. As economias americana e mundial resistem bem, o risco de recessão nos EUA está sendo afastado, embora haja uma retração já prevista antes da crise; retração que deve se prolongar até o segundo trimestre do próximo ano; o Produto Interno Bruto (PIB) mundial deve recuar apenas um pouco, mantendo-se, porém, próximo dos 5%.

Esse é um excelente resultado. Mesmo que recue, ainda é bom porque vem aumentando muito nos últimos seis anos.

BRASIL, MUDANÇA CAMBIAL


No Brasil, poucas dúvidas relacionadas com a economia mundial nesta semana. Os pontos fracos - juro, câmbio - já pesaram o que tinham de pesar e, a não ser que o real se valorize ainda mais, o choque parece estar sendo absorvido.

Tudo indica que o governo prepara medidas para conter a desvalorização do dólar, que pesa fortemente nas exportações; isso iria ocorrer até o fim do mês.

Algo está para acontecer e, pelas sondagens feitas pela coluna junto aos setores industriais, os principais interessados, que têm estado em contato com o governo nesses últimos dias, há esperança de acertar.

No fundo, o aumento dos preços das commodities agrícolas e minerais está compensando as perdas das exportações do setor industrial.

Mas isso não vem compensando o aumento expressivo das importações, que estão pesando exatamente no setor mais frágil no contexto externo: a indústria, que gera empregos e renda.

A questão é outra, não se trata, como muitos afirmam sem ir mais a fundo, apenas de exportar mais para gerar renda interna e divisas, mas exportar mais para poder importar mais, a preços menores (câmbio) num saudável equilíbrio da balança comercial.

Não há nada de errado em importar muito, a não ser quando isso decorre de uma distorção cambial punitiva que prejudica a indústria e outros setores, mas sim de importar muito sem, em contrapartida, também exportar muito.

IMPORTAR MAIS, EXPORTAR MAIS

Esse é um desafio interno atual, pois nosso comércio exterior está crescendo de forma desequilibrada. Mas, como estamos à margem do turbilhão financeiro internacional e como a demanda interna cresceu com o aumento da renda e da massa salarial, acreditamos ainda que estamos vivendo acima do resto do mundo.

Não. Nosso pulmão continua passando pelo comércio mundial e só ainda estamos bem, insisto, porque as commodities agrícolas e mundiais estão nos salvando.

De acordo com levantamento semanal feita pela revista britânica The Economist, o índice dos produtos agrícolas se elevou 3,8% na semana e, atentem para isso, 30,8% em um ano, enquanto os índices da indústria recuaram 6,5% na semana e 0,4% no ano.

Um caso que nos interessa: o dos metais, menos 9,1% na semana e menos 8,3% no ano. Ou seja, não será nem um pouco exagerar que o setor agrícola continue sustentando o nosso comércio exterior.

Sei que isso não é novidade, mas se torna a cada dia mais importante, não pelo saudável crescimento da agricultura, mas pelo negativo e preocupante - muito preocupante - recuo da indústria.

CHINA, SERÁ O JAPÃO?

A China parece estar repetindo a bolha japonesa no fim da década de 80. Essa é a tese de Peter Tasker, diretor de uma empresa de investimento, no Japão. Em artigo na revista americana Newsweek, que está nas bancas, o executivo relembra que a bolsa chinesa nos últimos sete anos valorizou-se 800% (sim, oitocentos!) e que, no boom japonês, em 8 anos, até 1990, a bolsa de Tóquio também valorizou-se 700%.

Assim como o Japão, a China e sua política monetária transformaram-se em refém das exportações. Mais ainda, o PIB japonês na década dobrou em sete anos e o da China entra no quarto ano acima de 9%.

Grave? Hoje a economia mundial precisa mais da China do que precisava do Japão. Mas pode haver ainda mais alguns anos antes de algo acontecer. Os primeiros sinais virão quando a bolha da bolsa chinesa começar a esvaziar-se.... ou explodir...

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