Está a salvo de qualquer contestação formal a eleição de Eduardo Paes.
Falando mais claro, o feriadinho criado pelo governo estadual não forçou eleitor algum a trocar de voto.
Apenas ofereceu a um considerável contingente de cidadãos funcionários a opção entre cumprir o dever cívico e levar a mulher e as crianças para um passeio de fim de semana. E isso afetou a votação do eleitorado carioca no segundo turno.
Até que ponto essa abstenção estimulada pesou no resultado, ninguém sabe. Com certeza, algum efeito teve — só não é possível afirmar se foi desejado ou acidental.
Seja como tiver sido, esperamos que todos tenham aproveitado bastante. O suficiente para compensar qualquer remorso.
Porque algum motivo para remorso, entre os que eram eleitores de Fernando Gabeira, deve existir. A comparação entre os totais de votos de cada candidato nos dois turnos mostra que a ausência nas urnas da turma do passeio fez diferença. Toda a diferença necessária? Difícil afirmar.
Enfim, cada cidadão dedicou seu domingo ao que considerava mais importante. Uns pensaram na alegria das crianças e foram se distrair. Outros deram mais importância ao acima citado dever cívico. Talvez tenham tido até a tentação de passear.
Resistiram a ela, achando que tinham coisa mais importante para fazer por aqui.
Esse contingente ganhou um direito que alguns podem considerar valioso: o de dizer, mais adiante — e se for o caso — que fizeram o pouco que estava ao seu alcance para oferecer ao Rio a chance de conhecer um novo tipo de gestão.
Muito provavelmente, seria bem diferente daquele a que estamos acostumados. Melhor? Ninguém garante.
Cabeças arejadas e boas intenções oferecem apenas um ponto de partida.
E o fato de um candidato ter um perfil e um discurso completamente diferentes daqueles a que estamos acostumados não é garantia de êxito. Quem duvidar, pergunte aos mais velhos, aqueles que meio século atrás apostaram numa extraordinária novidade chamada Jânio Quadros.
Gabeira não precisa se ofender: não há comparação nessa lembrança. Apenas a constatação do óbvio. Quando escolhemos o novo, por exasperação com os vícios do velho, sempre trabalhamos com esperanças, nunca com certezas.
Desta vez, independentemente do peso do tal feriadinho, os cariocas que ficaram em casa votaram no conhecido. Pelos primeiros passos e atos dos vencedores, ganhamos quatro anos de poucas surpresas e nenhuma novidade. Há quem ache que dorme melhor assim.
Entrevista:O Estado inteligente
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