Que tal uma impressão pessoal sobre a economia americana? Trata-se do relato de um amigo, brasileiro, morador em Miami, professor universitário já no ponto elevado da carreira, ouvido no último fim de semana.
Cinco anos atrás, ele deu uma entrada de US$ 70 mil e comprou um apartamento de US$ 420 mil.
Para o padrão de classe média, tratase de residência espetacular, em área nobre, ao lado da praia. Conta o nosso amigo: “É algo que não seria possível para um professor universitário em qualquer outro país, pelo menos nos países em que já morei.” Foram quatro, além do Brasil, incluindo Europa e América Latina.
Prazo da hipoteca: 30 anos. Prestação inicial de 2.350 dólares, que logo subiu para 2.500 e ficou fixa aí. Prestação pesada, mas dentro do orçamento, diz o professor.
No início deste ano, quando a compra completou cinco anos, o apartamento estava valendo US$ 700 mil.
Não por estimativa, mas porque outras unidades foram vendidas por aquele preço. Portanto, uma valorização de quase 70%. É nominal, precisaria descontar a inflação, acrescentar os aumentos salariais, mas no final continua dando uma baita valorização.
Eis um pedacinho da bolha imobiliária.
No mesmo ano em que comprou o apartamento, 2003, nosso professor checou seu fundo de pensão. Verificou então que, pelo prognóstico médio, suas metas de acumulação e poupança — ponto em que poderia se aposentar — seriam alcançadas em dez anos. Já em 2006, porém, as metas tinham sido alcançadas.
Como estão as coisas hoje? O apartamento desvalorizou. Antes do ponto máximo da crise, houve negócios a 650 mil dólares, talvez agora se faça a 620 mil. Portanto, uma perda de menos de 15% em relação ao pico.
Houve perdas pesadas no fundo de pensão, que, como toda essa modalidade de poupança, tem aplicações em ações. Na conta da sexta-feira da semana passada, o professor encontrou uma perda de 25% no total de seu fundo. O que significa mais anos de trabalho.
E daí? Daí que é desagradável, uma sensação de perda de riqueza, mas o professor observa que, no essencial, continua em um ponto bem superior ao de cinco anos atrás, tanto no apartamento quanto no fundo de pensão.
Continua, portanto, como ele diz, usufruindo os resultados de um sistema financeiro que lhe permitiu comprar uma casa acima de suas expectativas e formar uma poupança mais rápido do que, insiste, “em qualquer outro país desenvolvido”.
Deve-se acrescentar que o professor tem um emprego estável na universidade, o que é uma situação especial nos Estados Unidos. Além disso, ele conta que não se meteu em aventuras do tipo de tomar dinheiro emprestado refinanciando o apartamento. Ou seja, não se alavancou para consumir mais. E a casa fica numa região valorizada.
Conhece pessoas que estão em dificuldades para pagar suas hipotecas. E acrescenta uma opinião “muito pessoal”, pois sua atividade universitária não tem nada a ver com análises econômicas.
Para ele, “essas pessoas que compraram casa e que agora não têm condições de pagar só compraram porque o sistema deu condições excepcionais; elas não teriam o dinheiro em nenhum outro lugar e, de certo modo, não podem pagar hoje o que, a rigor, não teriam condições de ter comprado; talvez, mesmo tendo de devolver ou vender hoje a preço baixo, ainda saiam com alguma coisa”.
Na verdade, diz ele, vendo toda essa situação, andando pela cidade, freqüentando os shoppings, “dá a impressão de que a crise não afeta tanto assim a maioria do pessoal”.
Bom, como dizíamos no começo, trata-se de um relato pessoal, uma impressão. Mas que aponta um outro lado da história. Dos compradores de casa, uns 80% continuam pagando e tocando a vida. A inadimplência de 20% é elevada, as casas devolvidas pelos devedores atingiram um número que é o dobro do normal e, especialmente, as aquisições de casas novas caíram de um nível anual de 750 mil, um ano atrás, para 470 mil hoje.
Portanto, trata-se de uma enorme parada. A falta de crédito já derruba o consumo, mas há uma parte da economia americana que continua funcionando.
Uma economia “resiliente”, dizia Greenspan.
Entrevista:O Estado inteligente
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