A nova pesquisa eleitoral provocou comoção na liderança do Partido dos Trabalhadores. Impressionou muito mais a solidez da rejeição a Dilma Rousseff do que a rápida ascensão de Marina Silva (PSB) à segunda posição entre os adversários, com larga vantagem à frente de Aécio Neves (PSDB).
Dilma é uma presidente-candidata cuja taxa de rejeição (36%) já supera a soma de suas intenções de voto (34%) a apenas 40 dias da eleição. Esse quadro, definido pelos entrevistados com a resposta "não votaria de jeito nenhum", mantém-se praticamente estável há seis meses para a presidente-candidata - tendência confirmada por outras sondagens como a realizada pelo Datafolha na semana passada. A taxa de rejeição a Dilma supera em seis pontos as de Marina (10%) e de Aécio (18%).
Isso acontece em um cenário no qual ampla maioria do eleitorado manifesta, sucessivamente em todas as pesquisas, ansiedade por mudanças na forma de governar. Até agora, porém, os principais candidatos à Presidência mais dissimularam do que se dedicaram à discussão de propostas objetivas sobre o quê, como, onde e quem pagaria a conta de eventuais mudanças.
A chance de segundo turno se cristaliza com a força exibida por Marina (29%) e a posição de Aécio (19%). A liderança numérica de Dilma - próxima do empate com Marina - está dez pontos percentuais abaixo da soma dos adversários. É da tradição do PT não se surpreender com a possibilidade de um segundo turno.
Ontem, porém, a cúpula do PT se mostrava abalada com o cenário de Marina (45%) com nove pontos de vantagem sobre Dilma (36%).
Nem mesmo a confirmação da tendência de liderança (41%) da presidente-candidata numa projeção de disputa com Aécio (35%) serviu de consolo: sua vantagem na hipótese de embate com o candidato do PSDB se mantém minguante desde abril, segundo o Ibope. A distância que os separava era de 13 pontos dois meses atrás. Agora é de apenas seis.
Para Dilma, um complicador é o rarefeito entusiasmo que sua candidatura provoca em boa parte das lideranças do PT - obstinados devotos do "Volta, Lula!" O ex-presidente talvez seja, de fato, o principal responsável por manter essa chama acesa desde o ano passado, quando Dilma já havia demonstrado vontade de ir à luta pela reeleição. O problema do partido, nesta altura da campanha, é inovar na oferta ao eleitorado para continuar no poder. Movimento nessa direção pressupõe um reconhecimento da "insuficiência" do que já se fez, mas prevalece a relutância na admissão de "erros" - quaisquer que sejam. O preço a pagar está sugerido em pesquisas, como a de ontem.
Do outro lado, observa-se que há em comum um desconcerto com a velocidade da ascensão de Marina. Esse sentimento permeava, por exemplo, as reações dos seus aliados, líderes do PSB e do PPS.
Foram surpreendidos com o súbito avanço, de uma votação potencial em torno de 20 milhões - similar à obtida na eleição de 2010 - para cerca de 41 milhões, no espaço de uma semana. A perspectiva de poder passou a ser considerada como real e já impôs mudanças de comportamento da cúpula do PSB em relação à candidata, até então tratada com frieza em manifestações públicas e, sobretudo, no planejamento de campanha em estados como São Paulo e Rio de Janeiro.
No PSDB de Aécio Neves o choque com a passagem de Marina à segunda posição na preferência eleitoral, e com larga vantagem, detonou um processo de questionamento interno sobre o rumo da campanha. Bem sucedido na costura de acordos partidários regionais, ainda incólumes, Aécio talvez tenha se descuidado do embate direto com o eleitorado, onde suas propostas para mudanças ainda sequer são conhecidas. Agora, só lhe resta correr contra o tempo.
Faltam apenas cinco semanas e os eleitores renovam o aviso: mudem o rumo.
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