O desempenho do PIB em 2012 foi tão ruim quanto se esperava: avanço de apenas 0,9% sobre as posições de 2011 – o que contrariou as projeções oficiais do primeiro trimestre, que apontavam para "crescimento de algo entre 4,0% e 4,5%".
A maior decepção foi o desempenho do investimento, cujo nome e sobrenome nas Contas Nacionais é Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF): queda de 4,0%, o que compromete o futuro.
A indústria foi mal, embora menos do que se previa: caiu 0,8%. E o setor agropecuário, o mais dinâmico da economia, talvez tenha sido outra surpresa negativa: recuo de 2,3%. Reflete o mau momento dos subsetores do trigo, do fumo, da cana-de-açúcar, da laranja e da mandioca.
Quem repete por aí que o Brasil tem economia industrial? Nada disso. Passou a ser uma economia de serviços, que hoje detém fatia de 68,5% da renda nacional.
Infelizmente, nesse segmento não são os serviços de ponta e de alta tecnologia que têm conduzido o processo. Os setores que mais crescem estão envelopados sob a rubrica Outros Serviços. São as tarefas domésticas (empregada doméstica e babá), cabeleireira, manicure, segurança, call centers e um número não especificado ocupado por autônomos ou trabalhadores por conta própria.
Ao final de 2012, a indústria de transformação não pesava mais do que 13,3% do PIB. Houve perda de peso no bolo total de 5,9 pontos porcentuais desde 2004.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, tentou explicar nesta sexta-feira mais esse fiasco como sendo consequência da crise global. É mais um autoengano. Se a chuva fosse tão maior que o guarda-chuva (como escreveu o poeta Paulo Leminski), os demais países estariam tão encharcados quanto o Brasil. E, no entanto, não aconteceu assim. A tabela que vai noConfira dá uma ideia melhor disso.
O baixo desempenho do PIB tem a ver com os problemas internos do Brasil. E isso fica ainda mais evidente quando se juntam na mesma ficha PIB e inflação – de 5,84% em 2012 e acima dos 6,00% ao ano no primeiro bimestre de 2013.
Paradoxalmente, a mediocridade do desempenho econômico não é percebida pelo cidadão. O povão nunca comeu tão bem, nunca teve tanta oferta de emprego, nunca viajou tanto e começa a ter atendimento de saúde como nunca teve.
E isso se reflete nas Contas Nacionais. Lá está mostrado que, em 2012, o consumo das famílias cresceu 3,1% e o do governo, 3,2%. Ou seja, o mix das políticas econômicas privilegiou o consumo popular.
Tanto privilegiou que a Poupança Nacional caiu de 17,2% para 14,8%. O Brasil sempre investiu pouco, mas passou a investir menos ainda. Está comendo também as sementes e as matrizes.
Mas essa sensação de bem-estar não é sustentável. É verdade que o governo Dilma parece ter-se dado conta de que algo tem de mudar urgentemente. Esse esforço para elevar o investimento em infraestrutura e logística é efeito dessa tomada de consciência. O problema é que os resultados não são imediatos.
Por falar nisso, é pouco chorar sobre o leite derramado. A próxima Coluna vai examinar o que se pode esperar dessa suposta virada para o desempenho da economia em 2013.
CONFIRAA tabela mostra o avanço do PIB de 20 economias em desenvolvimento no ano passado. Todas cresceram acima de 1,0% – exceto a do Brasil. Não dá para descarregar a culpa do PIB fraco sobre a crise externa.
Rombo comercial. Até agora o governo não explicou por que empurrou para os três primeiros meses de 2013 a maior parte das estatísticas de importação de combustíveis – o maior responsável pelo maior déficit comercial em meses de fevereiro. Independentemente da razão, é mais uma distorção que dificulta as previsões do comportamento da economia neste ano.
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