O saber do ministro
A entrevista do ministro Guido Mantega nas páginas amarelas da "Veja" é antológica. Dois pontos merecem leitura para que todo o saber de tão importante economista possa ser sorvido na sua inteireza:
1) Ele diz assim, entre aspas, ao falar da evolução da economia brasileira nos últimos anos: "Foi um trabalho longo e coletivo. Separamos as contas do Banco do Brasil e do Banco Central, criamos a Secretaria do Tesouro Nacional, estruturamos o sistema financeiro, aperfeiçoamos o mercado de capitais". Perceberam o plural magestático? Nós, nós, nós! É o caso de perguntar: Nós quem, cara pálida?! Tudo o que o ministro aponta como avanço foi combatido ferozmente por ele como principal conselheiro econômico de Lula (ok, não vamos esquecer o Mercadante, para não parecer injustiça). Mas o melhor mesmo é a maravilhosa - e sinuosa - construção verbal para rodear os efeitos positivos do Proer, o programa de ajuda aos bancos que beneficia hoje o governo Lula. Vale repetir: "Estruturamos o sistema financeiro"... Fica combinado então o seguinte: Guido Mantega fez o Proer e estruturou o sistema financeiro. E não se fala mais nisso. O que seria do mundo sem um bom eufemismo, não é mesmo?
2) Depois ele tece loas à licitação das rodovias federais, dizendo assim: "(...) que mudou o paradigma das privatizações no Brasil". Mas e como é que fica nisso o secretário de Imprensa, Franklin Martins, que enviou carta ao Globo dizendo que o que houve nas estradas não foi privatização?