"É tão raro o Brasil sobressair em algum
campo que seria justo comemorar o bom
desempenho de nossas prostitutas.
O problema é que não lucramos nada com
isso. Somos inaptos para os negócios"
O Rio de Janeiro é melhor que Cartagena. Também é melhor que San José e Budapeste. A internet está cheia de gente debatendo o assunto. Todos os especialistas estrangeiros concordam num ponto: só Bangcoc é páreo para o Rio em matéria de pornoturismo.
O pornoturismo carioca se concentra em Copacabana. Os hotéis mais recomendados nos guias da categoria são o Debret e o Rio Roiss. Ambos admitem que as prostitutas acompanhem os hóspedes até os quartos. O roteiro dos pornoturistas começa na praia, onde os barraqueiros oferecem, além de cadeira e caipirinha, prostitutas. O barraqueiro Flávio é particularmente prestativo. A seguir, os pornoturistas se dirigem ao bar Meia Pataca, no calçadão. Logo são assediados por garotas de programa de todos os tipos. Como alternativa, podem visitar uma das muitas saunas da cidade: L'Uomo, Quatro-por-Quatro, 65, Monte Carlo, Centaurus. Os guias reclamam do tamanho dos seios das prostitutas do Centaurus. Em compensação, elogiam muito a Roberta, do Monte Carlo.
À noite, os pornoturistas se reúnem na discoteca Help. Tradicionais áreas de meretrício como a Vila Mimosa são desaconselhadas pela falta de higiene. Bem mais seguro é recorrer a empresas como a Escort Company Girl, que possibilitam a escolha das mulheres pelo computador, de Paula, a "ninfeta sapeca", a Lisandra, com "seios à prova de lápis". Um desses guias de pornoturismo jura que "não há nada igual ao Rio". Outro, que nossas "prostitutas gostam de seu trabalho". Outro, que "as brasileiras julgam a prostituição uma atividade natural".
É tão raro que o Brasil consiga sobressair em algum campo que seria justo comemorar o bom desempenho de nossas prostitutas. O problema é que não lucramos praticamente nada com isso. A indústria do sexo rende centenas de bilhões de dólares no mundo todo. O país mais rico, os Estados Unidos, é também o que mais fatura. Só em San Fernando Valley, na Califórnia, são feitos 11.000 filmes pornográficos por ano, que empregam 20.000 pessoas e arrecadam acima de 4 bilhões de dólares. É mais do que a Volkswagen ganha no Brasil. Estrelas como Jasmin Saint-Claire, John Stagliano e Rocco Siffredi já ambientaram alguns de seus filmes no Rio, como os da série Buttman, mas nossas compatriotas só atuaram em papéis secundários. A carioca Veronica Brazil chegou a obter algum sucesso lá fora participando do filme de estréia de John Bobbit, aquele sujeito que foi emasculado pela mulher, mas ela logo desapareceu.
A leitura dos guias de pornoturismo revela as origens do fracasso nacional. A gente está sempre disposto a se vender, mas por um preço baixo demais. Aliamos um temperamento mercenário à mais absoluta inaptidão para os negócios. Nossas autoridades toleram todas as formas de abuso, inclusive a pedofilia e a escravidão, desde que praticadas contra miseráveis. Em nossa sociedade pré-industrial, não sabemos nem ao menos fabricar preservativos, considerados "espessos e pouco confiáveis" pelos turistas estrangeiros. A única contribuição brasileira ao ramo da pornografia, como acontece em todos os outros ramos, é fornecer mão-de-obra não qualificada e mal remunerada. Fernando Gabeira apresentou um projeto de lei para regulamentar a prostituição. Será muito mais útil para o Rio do que os Jogos Olímpicos.