A complacência do PT com seus membros envolvidos em escândalos de corrupção corresponde à própria formação física do partido, que se vendeu à opinião pública - com êxito, admita-se - como a imagem da pureza política quando já nos governos municipais estava envolvido em transações ilegais com empresas de coleta de lixo e licitações fraudulentas.
Os assassinatos de prefeitos como Celso Daniel, de Santo André, e Toninho do PT, de Campinas, são os rastros deixados no plano municipal antes de o PT alçar-se enfim ao plano federal. Já não era mais a virgem pura que se autoproclamava, mas a complacência com as transgressões permitia que sempre voltassem a público como se virgens ainda fossem.
O caso recente, do último fim de semana, é repetição como farsa do que acontecera anteriormente, quando da condenação dos líderes partidários no caso do mensalão. O diretório nacional do PT aprovou uma nova velha regra que prevê a expulsão de qualquer filiado comprovadamente envolvido em escândalos de corrupção.
A regra anterior dizia a mesma coisa, mas foi superada pela realidade do mensalão. A proposta atual definia como "imediata" a expulsão, mas o termo tão radical foi retirado do texto oficial. Quando houve o mensalão, mesmo depois de condenados, nenhum dos líderes petistas foi expulso.
O ex-presidente José Genoino, condenado por corrupção ativa e formação de quadrilha (crime depois revogado pela revisão de dois novos ministros que entraram no julgamento apenas na parte recursal) assumiu uma cadeira na Câmara dos Deputados por ser o primeiro suplente do PT paulista.
Também o deputado federal João Paulo Cunha, ex-presidente da Câmara, continuou no seu papel de deputado federal por bom tempo, até que as condições objetivas o impediram de continuar a farsa. Quem o PT expulsou de suas fileiras nos últimos anos, quando escândalos de diversos quilates estouraram no seu colo? Apenas seu tesoureiro à época do mensalão, Delubio Soares, que nunca perdeu sua situação de prestígio dentro do partido e foi finalmente reconduzido, antes mesmo do julgamento pelo Supremo Tribunal Federal, numa tentativa de inocentá-lo publicamente.
José Dirceu continuou com tanta importância dentro do PT que se tornou um consultor de empresas altamente requisitado justamente por seu prestígio pessoal junto aos presidentes petistas e demais autoridades governamentais. O presidente do PT, Rui Falcão, descartou na ocasião qualquer possibilidade de expulsão do partido dos condenados no julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
O estatuto do partido determinava a expulsão de filiados condenados "por crime infamante ou por práticas administrativas ilícitas, com sentença transitado em julgado", mas segundo Falcão,"nenhum deles está incluído (na punição). Não houve desvio administrativo. Quem aplica o estatuto somos nós. Nós interpretamos o estatuto".
Agora, o Diretório Nacional manifestou "a disposição firme e inabalável de apoiar o combate à corrupção. Qualquer filiado que tiver, de forma comprovada, participado de corrupção, deve ser expulso”. Mas, como já vimos, a suposta expulsão não será "imediata", como dependerá da interpretação exclusiva do partido se a participação em corrupção foi devidamente comprovada.
Vamos dar tempo ao tempo, no caso do petrolão ainda em curso. A relação do partido com seus filiados envolvidos em atos de corrupção, no entanto, não dá margem a esperanças de que o PT resolveu, mais uma vez, "se refundar". Veja-se o caso do ex-petista André Vargas, que acabou se desfiliando do partido, mas contou com o apoio dos companheiros para retardar ao máximo sua cassação.
Agora, que a cassação enfim irá ao plenário da Câmara, veremos quantos petistas ajudarão a não dar quorum para a punição.
Então, é de se perguntar, a mais recente resolução do Diretório Nacional do PT não atinge o "pratrasmente", como diria o prefeito Odorico Paraguaçu, personagem inesquecível de Dias Gomes? É claro que não, assim como não atingirá os atuais envolvidos no petrolão. A resolução petista é mais uma daquelas para ganhar tempo e tentar reassumir a pose de virgem pura, que, com a complacência, finge ser o que nunca na verdade foi.
Entrevista:O Estado inteligente
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