A primeira pessoa que transformou as palavras "Dilma" e "impeachment" em unidades sintáticas, formando um todo harmônico, foi este rottweiler amoroso, no dia 24 de outubro. Não me orgulho nem disso nem de ter criado o já dicionarizado termo "petralha". Preferiria cultivar, como o poeta, neologismos celestes, colhendo uma poesia menos perturbada.
É claro que a minha oração principal tinha –e tem– uma subordinada adverbial condicional: "Se Dilma sabia da roubalheira na Petrobras, o impeachment é inevitável". Essa não é a gramática do golpe, mas a do Estado de Direito. Golpista é querer recorrer à legitimidade conferida por um processo legal –as eleições– para violar garantias que pertencem às instituições, não aos homens.
Do dia 24 a esta data, as coisas se complicaram. Um dos executivos da Toyo Setal, Augusto Ribeiro de Mendonça Neto, diz que parte da propina que pagou ao PT, entre 2008 e 2011 –a primeira eleição de Dilma se deu em 2010–, foi vertida em doação registrada. Um companheiro seu de empresa, Júlio Camargo, tem versão não menos estupefaciente. O dinheiro sujo teria circulado mesmo é em dutos paralelos, parte dele depositada em contas no exterior. Segundo revelou reportagem da "Veja", Alberto Youssef se prontificou a colaborar com a PF para que esta chegue às contas secretas que o PT manteria fora do país.
Uma pequena digressão que nos remete à essência do problema: o tamanho do Estado. Tanto Paulo Roberto Costa como Youssef afirmam que o esquema da Petrobras era apenas uma das cabeças da hidra. É claro que a empresa não reúne condições particulares para ser tomada por uma quadrilha. Vigoram ali as condições estruturais presentes nas demais estatais e na administração. Logo...
Até hoje ninguém se dispôs a me explicar por que um partido político reivindica a diretoria de operações de uma estatal. Com que propósito? Como é que nós, jornalistas, noticiamos candidamente que Sérgio Machado deixa a presidência das Transpetro, mas que o cargo continuará privativo de Renan Calheiros? O que determina essa exclusividade? É preciso ser senador? É preciso ser do PMDB? É preciso ser de Alagoas? É preciso ter implante de cabelos? Trata-se de uma combinação de todas essas coisas? Fim da digressão.
Em entrevista recente, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) afirmou ter perdido a eleição para uma "organização criminosa". Rui Falcão, presidente do PT, quer saber se ele confirma o dito para decidir se o processa. Isso é lá com eles. Se o que dizem Costa, Youssef, Mendonça Neto e Camargo for verdade, a coisa é mais feia do que parece: o Brasil já está sendo governado por uma organização criminosa. Nada de me notificar, hein, Falcão! A oração subordinada vai definir o exato sentido da principal e se o PT tem ou não de ser posto na ilegalidade.
O COXINHA VERMELHO
Guilherme Boulos quer chamar a minha atenção. Alguém destroçou o superego desse rapaz. Desprezo o indivíduo: pensa mal, escreve mal, lê mal, mesmo para os padrões das esquerdas. Também não me interessa o paciente clínico. Mas continuarei, sim, a tratar do Boulos como peça de uma engrenagem criminosa quando achar necessário. O ódio é mais fiel do que o amor, rapaz! Seu pai desistiu de você, mas você não desiste de mim. Entendo. Mas tenho dó.