FOLHA DE SÃO PAULO - 23/04/10
Alô, presidente Lula! Alô, ministro Celso Amorim! Cadê a minha medalha da Ordem do Rio Branco?
CERTA VEZ , perguntei a Olacyr de Morais qual era o segredo do seu sucesso. O rei da soja pensou e pensou e saiu-se com a genial conclusão: "Desde menino, sempre trabalhei de sol a sol".
Ora, não deixa de ser comovente e é sempre bom ter esse tipo de informação, mas fui obrigada a lembrá-lo de que minha empregada também observou estritamente a mesma rotina e nem por isso ficou milionária.
Olacyr abriu um baita olhão quando coloquei esse fato em perspectiva e imediatamente se pôs a pensar em resposta melhor.
Lembrei da passagem ocorrida com o amigo Olacyr quando soube que o Itamaraty havia usado o Dia do Diplomata, no último 20 de abril, para agraciar personagens insólitos com a Ordem do Rio Branco.
Até os pombos que costumam sujar as estátuas consagradas a Ruy Barbosa do Chuí a Haia sabem que a Ordem do Rio Branco é a mais alta honraria a que um brasileiro pode aspirar e que foi feita para "galardoar os que, por qualquer motivo ou benemerência, se tenham tornado merecedores do reconhecimento do governo brasileiro".
Pois, neste ano de fim de festa do governo Lula, parece que o critério da escolha das personalidades condecoradas fugiu um pouco do aspecto técnico. Isso ou as autoridades que escolhem quem será condecorado não conhecem ninguém fora da sua turminha.
Alô, presidente Lula! Alô, ministro Celso Amorim! Cadê minha comenda? Cadê a minha medalha da Ordem do Rio Branco? Se dona Marisa Letícia foi agraciada porque, como diz o ministro das Relações Exteriores, "Não se pode imaginar a atuação do presidente sem o apoio de sua mulher", eu queria dizer que também aguento Lula faz tempo. Sete anos e quatro meses, só desta feita, para ser mais precisa.
Mas isso não é nada, até aprendi a gostar do sapo barbudo. O pior é que aguento o Marco Aurélio Garcia e ainda sou obrigada a engolir o Celso Amorim desde janeiro de 2003. Isso não é digno de medalha? E olha que a gente pensava que já tinha visto tudo em matéria de ministro das Relações Exteriores trapalhão e cheio de empáfia, né não, Celso Lafer?
Eu sei que, além de importante, a Ordem do Rio Branco orna. E que vai combinar lindamente com os olhos de dona Marisa. Minha amiga, tucana de luxo, Claudia Matarazzo, que também recebeu a condecoração, explicou-me que o agraciado ganha um estojo com dois broches e um pin de lapela, e que as medalhas devem ser usadas apenas em cerimônias oficiais.
Mas, se dona Marisa e a mulher de Celso Amorim ganharam por esquentar a cadeira no jantar, a Thaís Araújo por ser a negra da novela e o amigo Fábio Barreto por fazer um filme que consegue ser pior do que essa coisa sem pé nem cabeça chamada "Chico Xavier", minha empregada, você e eu também merecemos. Ou não, meu caro leitor? Uma medalha da Ordem do Rio Branco, um Oscar, um Grammy, um Nobel e uma medalha olímpica pelo correio, já, para todos nós que vivemos a difícil aventura da cidadania tapuia!
Em tempo, depois de pensar melhor, Olacyr respondeu que seu sucesso se devia à persistência de ter seguido plantando por anos a fio, mesmo quando seus pés de soja não ultrapassavam os 12 cm de altura.
Entrevista:O Estado inteligente
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