Entrevista:O Estado inteligente

sábado, agosto 27, 2016

Olimpíadas: oportunidades em aberto Josef Barat



O ESTADO DE SÃO PAULO - Economia e Negócios

Quarta Feira , 24 de Agosto de 2016.



Em geral, a importância de sediar os Jogos Olímpicos é medida pelo legado que deixam nas cidades que os recebem. São profundas mudanças na configuração urbana, melhorias nas infraestruturas em geral – particularmente nas de mobilidade – parques olímpicos que se integram ao lazer dos cidadãos, bem como construções e equipamentos esportivos que, em tese, contribuirão para ampliar a cultura do esporte. Outra métrica é a do número de visitantes, principalmente estrangeiros, pelo que aportam de receita para o comércio e serviços, além da ampla divulgação mundial das atratividades da cidade sede.

No entanto, os Jogos Olímpicos também têm impactos na economia como um todo, na medida em que estimulam expectativas e confiança nos agentes produtivos. Há toda uma cadeia de produção e negócios que se forma em torno dos Jogos, o que acaba por dinamizar o ambiente econômico. Em países onde prevalece uma visão voltada para estratégias de longo prazo, sediar uma Olimpíada pode ser o detonador de uma multiplicidade de iniciativas nas atividades criativas voltadas para a inovação e o aproveitamento de talentos. Neste sentido, há toda uma soma de esforços coordenados de entidades públicas e privadas, para fortalecer e ampliar o alcance desta cadeia produtiva.

Em um mundo globalizado e competitivo, abre-se assim uma oportunidade única de inserção mais ampla e forte no cenário internacional. O que pode beneficiar, em muito, o comércio exterior, a atração de investimentos, a divulgação de marcas e produtos do país, enfim toda uma gama de possibilidade para atingir um novo patamar de presença mundial. Se as oportunidades são bem aproveitadas, abrem-se perspectivas muito amplas, que acabam por transcender o esporte e a magnitude do evento em si.

Um legado importante, também, é o de todo um esforço coordenado de governos, grupos empresariais, universidades e centros de pesquisa, no sentido de tirar partido dos Jogos Olímpicos para fomentar o esporte. O planejamento de longo prazo e os investimentos voltados para o fator humano – aprimorando atletas e treinadores – acabam difundindo pela sociedade, o interesse e oportunidades para atrair mais atletas. Os exemplos recentes de Pequim e Londres, mostram como, desde os anos 90, a visão de longo prazo influiu decisivamente no posicionamento atual das equipes desses países no ranking de medalhas.

Países que investem na pluralidade das práticas esportivas e no treinamento consistente da escola à universidade atingem níveis de excelência em uma gama mais ampla de modalidades do esporte. Maior o número de medalhas, maior o potencial de disseminação do esporte. O caso dos Estados Unidos é emblemático e demonstra o sucesso da articulação de investimentos privados e interesse público no estimulo à pratica esportiva, modelo que permaneceu e se aprimorou ao longo do tempo. Grã-Bretanha e China são casos bem planejados de sucesso, a primeira estimulando parcerias público-privadas e a segunda driblando a ortodoxia estatal.

O Brasil, com o seu renitente distanciamento em relação ao mundo, não entendeu bem para que serve o privilégio de sediar os Jogos Olímpicos. A atenção – sempre de curto prazo e oportunista – concentrou-se nas obras e nos aspectos mais superficiais e visíveis do legado urbano. Pouco se aproveitou do gigantesco potencial de estimulo econômico e subestimou-se o potencial de maior integração ao circuito mundial da inovação e criatividade.

Do ponto de vista estrito da atividade esportiva, frustrou-se a expectativa de programas bem estruturados e consistentes de descoberta de talentos e treinamento desde a escola até a universidade. Com a exceção de apoios pontuais e meritórios das Forças Armadas e de algumas empesas, nossos atletas tiveram que enfrentar, via de regra, enormes dificuldades para alcançarem sucesso nas competições. Avançamos nas medalhas e diversificamos as participações, é verdade, mas ainda há um longo caminho a percorrer para superarmos a monocultura do futebol e ingressarmos no seleto grupo das potências olímpicas.


Josef Barat - Economista, Consultor de entidades públicas e privadas, é Coordenador do Núcleo de Estudos Urbanos da Associação Comercial de São Paulo. 

 

 

 


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