O GLOBO 16/2/13
A praia de Copacabana deverá ser interditada no réveillon (o povo assistirá aos fogos pela TV). É o mínimo que se espera das autoridades, se elas mantiverem seu surto de ordem pós-Santa Maria. E as centenas de blocos carnavalescos que engessam as ruas terão que desfilar em fila indiana em 2014. É mais seguro.
Os homens da lei que chegaram a invadir festa de aniversário em barzinho, lacrando tudo (até o bolo com suas velas assassinas), não haverão de tolerar mais essas aglomerações bíblicas a céu aberto sem saída de emergência (para quem está no miolo da multidão). As paredes são os outros. Se a ordem é interditar primeiro e perguntar depois, é o caso de ir cancelando logo o réveillon e o carnaval - pelo menos na presente forma de ajuntamentos boçais em nome da paz e da alegria.
A ideia não é o controle total? Então onde está o plano de segurança para um corre-corre acidental numa dessas muvucas de milhares - ou milhões - de pessoas comprimidas e eventualmente alcoolizadas? A presidente Dilma foi muito clara, em um de seus comícios após o incêndio de Santa Maria: determinou aos prefeitos de todo o país que tragédias como aquela jamais se repitam em qualquer cidade brasileira. Pronto.
Nada como uma líder resoluta. A partir daí, cada xerife saiu com sua estrelinha disputando quem embargava mais, quem dava o maior show de interdições de boates, teatros, bares, quiosques e barracas.
Senhor pipoqueiro, onde está o seu alvará? Não tem? Carrocinha lacrada.
Ontem um bueiro entrou em ebulição na Avenida Rio Branco. É o enésimo bueiro na cidade do Rio de Janeiro a atentar contra a população, num histórico recente de explosões súbitas e violentas que já vez dezenas de vítimas. Onde está o plano de segurança contra o subsolo letal? O que deve ser interditado nesse caso? As ruas? Os pedestres? A Light?
O espetáculo dos surtos de ordem pública é patético. Depois da tragédia na boate Kiss, surgiu a proposta de uma medida provisória proibindo as comandas para o pagamento do consumo na saída em casas noturnas. É uma tese incrível: se você pagar um chope de cada vez ao garçom, nunca será refém de uma tragédia. Como se vê, a fronteira entre a civilidade e a estupidez nem sempre é perceptível.
Mas a reação da sociedade em defesa da segurança, da moral e dos bons costumes pode ir muito além disso. Uma semana depois da tragédia em Santa Maria, a Polícia Federal acionou as polícias civis para uma espetáculo dos surtos de ordem pública é patético. Depois da tragédia na boate Kiss, surgiu a proposta de uma medida provisória proibindo as comandas para o pagamento do consumo na saída em casas noturnas. É uma tese incrível: se você pagar um chope de cada vez ao garçom, nunca será refém de uma tragédia. Como se vê, a fronteira entre a civilidade e a estupidez nem sempre é perceptível.
Mas a reação da sociedade em defesa da segurança, da moral e dos bons costumes pode ir muito além disso.
Uma semana depois da tragédia em Santa Maria, a Polícia Federal acionou as polícias civis para uma grande operação na internet.
Uma semana depois da tragédia em Santa Maria, a Polícia Federal acionou as polícias civis para uma grande operação na internet.
O objetivo era rastrear piadas que começaram a circular na rede sobre o incêndio. Autoridades policiais informaram que esse tipo de manifestação era crime, anunciando que iriam à caça de seus autores para prendê-los.
A sorte dos bravos investigadores é que demagogia moralista não dá cadeia no Brasil. Mesmo assim, por seus próprios critérios, esses caçadores de espíritos de porco poderiam estar presos: é deles, sem dúvida, a pior piada até agora sobre a tragédia.
Pobre sociedade progressista. Quanto mais se compraz com o espetáculo politicamente correto, mais emburrece.
Condomínios em prédios ricos do Rio de Janeiro estão instalando câmeras em suas fachadas
Condomínios em prédios ricos do Rio de Janeiro estão instalando câmeras em suas fachadas
para vigiar e punir moradores que atiram guimbas de cigarro pela janela. Chegou enfim o tempo em que os arroubos éticos consagram a ignorância.
A presidente da República ordena o fim das tragédias, determinando que autoridades locais e donos de boates tenham tolerância zero com as ilegalidades.
Em termos de obediência a regras, o exemplo mais eloquente do governo popular é a transformação de agências reguladoras - que criam e fiscalizam regras - em balcões de empregos e propinas, chefiadas por autoridades como Rosemary Noronha, a lobista afilhada de Dilma e Lula. Mas a presidente é mulher e chora - e isso basta à sociedade "progressista".
Em termos de obediência a regras, o exemplo mais eloquente do governo popular é a transformação de agências reguladoras - que criam e fiscalizam regras - em balcões de empregos e propinas, chefiadas por autoridades como Rosemary Noronha, a lobista afilhada de Dilma e Lula. Mas a presidente é mulher e chora - e isso basta à sociedade "progressista".
Agora o estado-maior novelesco já começa a ofensiva de marketing pelo "Papa brasileiro", para se juntar à mulher e ao operário no presépio populista.
Não tem jeito: é pão e circo (e reza para ele não pegar fogo).
Não tem jeito: é pão e circo (e reza para ele não pegar fogo).
Fonte: O Globo