"Para mim, 2004 não ficará marcado por
Lula, e sim pelo  motim na Casa de Custódia
de Benfica, no Rio de Janeiro. Bandidos do 
Comando Vermelho esquartejaram bandidos
do Terceiro Comando e jogaram  futebol com
suas cabeças. Foi o episódio que melhor
representou a  barbárie nacional. Quando
me lembrar de 2004, a imagem será esta:
a de  uma cabeça rolando, talvez batendo na trave"
É fácil enganar os brasileiros.  Depois de apenas um ano de crescimento, estamos crentes de que o futuro será  ainda melhor. Lula, que não é tonto, adotou o crescimento sustentado como bordão  publicitário. No discurso de abertura da última reunião ministerial, em que fez  um balanço dos dois primeiros anos de governo, ele repetiu dez vezes que o  Brasil está a caminho do desenvolvimento. E garantiu que, ao contrário do que  aconteceu no passado, "não se trata de bolha, de espasmo". A segunda etapa da  campanha "O melhor do Brasil é o brasileiro", que será veiculada no ano que vem,  irá bater nesse ponto. A propaganda oficial pretende mostrar que entramos  definitivamente na "era do desenvolvimento sustentável". Ou, para usar a  metáfora presidencial, que chegou "a hora da colheita".
Não sei dizer por  quanto tempo a economia brasileira poderá continuar a crescer. Um ano? Dois  anos? Depende do que ocorrer lá fora. Depende da cotação da banana no mercado  internacional. O fato é que, cedo ou tarde, o crescimento do país irá despencar.  Não dá para crescer, a longo prazo, quando se aumentam os gastos com o  funcionalismo público, como fez Lula. Não dá para crescer com o pior ensino do  mundo. Não dá para crescer com 50.000 assassinatos por ano. Quando Lula fala em  crescimento sustentado, a única dúvida é saber se o crescimento se sustenta, ou  não, até 2006. Se sim, Lula se reelege. Se não, ele volta para casa. A recessão  é inevitável. Virá de qualquer maneira. Tendo de torcer por uma data, é melhor  que ela venha antes das eleições, e não depois. Assim, pelo menos, a gente tem  uma pequena chance de se livrar do PT.
Ao fazer o balanço dos dois primeiros  anos de governo, Lula aproveitou para elogiar o ministro Eduardo Campos, que,  como bom pernambucano, acaba de ter o quarto filho, numa demonstração de que é  um "nordestino vigoroso". É exatamente isso que se esperaria de um presidente:  um incentivo à explosão demográfica no Nordeste. A seguir, Lula negou que seu  governo tenha se limitado a dar continuidade às políticas de Fernando Henrique  Cardoso. A acusação de que seu governo é um mero apêndice do anterior o atazana  profundamente. Ele tem razão. Essa história de continuísmo está sendo mal  contada. A verdade é a seguinte: como os petistas não têm a menor noção de  administração pública, são obrigados a imitar seus predecessores, quaisquer que  eles sejam. Da mesma maneira que, em Brasília, Lula herdou as políticas de  Fernando Henrique, Marta Suplicy, na prefeitura de São Paulo, herdou as de  Maluf, com suas obras eleitoreiras e o rombo nas contas públicas. Lula não segue  as imposições dos banqueiros internacionais. Ele simplesmente não sabe fazer de  outro jeito.
Ainda que Lula consiga se reeleger em 2006, seu governo será  rapidamente esquecido. Daqui a dez anos, ninguém mais se lembrará dele. Não  sobrará uma única idéia, uma única iniciativa que recorde sua passagem pelo  poder. Para mim, 2004 não ficará marcado por Lula, e sim pelo motim na Casa de  Custódia de Benfica, no Rio de Janeiro. Bandidos do Comando Vermelho  esquartejaram bandidos do Terceiro Comando e jogaram futebol com suas cabeças.  Foi o episódio que melhor representou a barbárie nacional. Quando me lembrar de  2004, a imagem será esta: a de uma cabeça rolando, talvez batendo na trave.
Entrevista:O Estado inteligente
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segunda-feira, dezembro 20, 2004
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