Diogo Mainardi
MM: de motoboys e Marshall
"Ainda não entendi se, para termos direito ao
Plano Marshall lulista, precisamos primeiro nos
submeter ao bombardeio e à destruição de nossas
cidades, como aconteceu na Europa Ocidental" 19/6/2004
Morrem dois motoboys por dia em São Paulo. Morrem mais motoboys em São Paulo do que soldados americanos no Iraque. São Paulo é a Bagdá da entrega rápida. A prefeitura paulistana nunca se interessou em descobrir quantos motoboys morriam na cidade. O mérito foi do documentário Motoboys: Vida Loca, atualmente nos cinemas. Antes que os documentaristas denunciassem o fato, a prefeitura computava apenas os motoboys que morriam no local dos acidentes, desconsiderando os que morriam em hospitais.
Os autores de Vida Loca tentaram entrevistar Marta Suplicy sobre a carnificina dos motoboys. Ela marcou e desmarcou a entrevista em cinco diferentes ocasiões. Quando o documentário ficou pronto, ainda que sem o depoimento da prefeita, surgiu a idéia de mostrá-lo para a comunidade de motoboys, num telão no Vale do Anhangabaú. Os órgãos da prefeitura deram a permissão para o evento. Até o dia em que o diretor da Empresa Municipal de Urbanização (Emurb) assistiu ao documentário e se alarmou com uma passagem que chamava atenção para a entrevista repetidamente cancelada por Marta Suplicy. O diretor da Emurb mandou retirar aquela passagem do documentário, caso contrário o evento no Vale do Anhangabaú seria suspenso. E foi mesmo.
Depois de ignorar a morte dos motoboys por mais de metade do mandato, Marta Suplicy decidiu agir, retomando um decreto de Celso Pitta que impunha o cadastramento da categoria. Entre uma despesa e outra, o cadastramento pode chegar a 300 reais. O equivalente ao salário mensal de um motoboy. Os petistas são assim: desconhecem os problemas, respondem somente a quem lhes interessa, punem seus opositores, consideram que o Estado lhes pertence, estão em permanente campanha eleitoral e aplicam medidas de adversários políticos que antes contestavam. Os motoboys vão continuar morrendo em São Paulo, só que agora devidamente cadastrados.
Lula, por outro lado, parece ter amadurecido. Ele pediu um Plano Marshall para o Brasil. Boa, Lula. Finalmente, Lula. O Plano Marshall foi idealizado pelos Estados Unidos para ajudar a reerguer as economias da Europa Ocidental, depois da II Guerra Mundial. Ainda não entendi se, para termos direito ao Plano Marshall lulista, precisamos primeiro nos submeter ao bombardeio e à destruição de nossas cidades, como aconteceu na Europa Ocidental. Acho que não. Acho que Lula quer o Plano Marshall sem o detalhe dos 20 milhões de mortos. O Plano Marshall subsidiou a importação de produtos americanos por parte dos europeus e financiou a reconstrução de suas indústrias. O resultado foi transformá-los em satélites dos Estados Unidos. Lula está absolutamente certo em querer transformar o Brasil num satélite dos Estados Unidos. O que mais podemos desejar? Difícil será convencer os americanos de que o investimento vale a pena. Os europeus podiam oferecer um mercado promissor e mão-de-obra instruída. O Brasil é diferente. Se construirmos indústrias demais, faltará gente capacitada para apertar os botões. Quando Fidel Castro tinha 12 anos de idade, endereçou uma carta ao presidente americano pedindo uma nota de 10 dólares. O Plano Marshall, na cabeça de Lula, funciona mais ou menos do mesmo jeito. Ele pede uns dólares e o presidente americano dá. Lula é igual a Fidel Castro. Um Fidel Castro com 12 anos de idade.
Entrevista:O Estado inteligente
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