Entrevista:O Estado inteligente

sábado, agosto 16, 2003

Diogo Mainardi Varig e TAM


"O fato mais curioso na fusão da Varig
com a TAM é que ninguém sabe direito
quanto o governo federal irá gastar.
Li que o BNDES ofereceu à empresa
um empréstimo-ponte de 700 milhões
de dólares, porém o presidente
do banco não confirma"

As aeromoças da Varig encheram-me de mensagens na última semana. Uma delas me elevou à condição de "defensor da democracia". Outra me atribuiu "grande prestígio entre os leitores". O meu ponto fraco é a adulação. Basta falar bem a meu respeito que eu cedo. Ainda mais quando se trata de aeromoças. Elas querem que eu me manifeste contra a fusão entre a Varig e a TAM? Então eu me manifesto: sou contra. Se tivessem pedido uma manifestação a favor, eu teria me manifestado a favor.

De todas as mensagens enviadas pelas aeromoças da Varig, as de gosto mais duvidoso foram aquelas com recortes de jornal relatando acidentes com os Fokker da TAM. Falam de "fuga de fluido hidráulico", de "fogo no trem de pouso", de "falha no auto-throttle", de "abertura da porta lateral". As aeromoças da Varig mandaram-me também misteriosas mensagens em código: RESTRICAO DE 20 PAX INF DESPACHANTE DVD *CHUVA* EMCWB PT ACFT DEP POA COM 57 PAX TOT PT. O que significa?

As aeromoças e os pilotos da Varig, pelo que entendi, querem usar seus créditos trabalhistas para comprar a companhia, mas o governo federal insiste em fundi-la com a TAM. A proposta dos funcionários da Varig parece ter uns buracos. Inclui investimentos do BNDES, só que o BNDES é favorável à fusão com a TAM. Os funcionários também contam com a participação do fundo de pensão Aerus, embora o diretor do instituto já tenha avisado que não quer saber do projeto, inclusive porque é ilegal.

O sindicato das aeromoças e dos pilotos da Varig é filiado à CUT. Eles se arrependeram de ter votado em Lula. Entupiram-me de mensagens sobre os 600 quilos de bombons encomendados pelo Palácio do Planalto. O principal interessado na fusão entre a Varig e a TAM, segundo as aeromoças, é José Dirceu. Se José Dirceu é a favor de uma coisa, eu sou contra. O problema é que o único aliado que as aeromoças da Varig conseguiram encontrar até agora foi o senador Marcelo Crivella. Eu não quero ser visto em sua companhia.

O fato mais curioso na fusão da Varig com a TAM é que ninguém sabe direito quanto o governo federal irá gastar. Li que o BNDES ofereceu à empresa um empréstimo-ponte de 700 milhões de dólares, porém o presidente do banco, Carlos Lessa, negou-se a confirmar o número, alegando "segredo bancário". As companhias aéreas pleiteiam ajuda estatal porque foram prejudicadas pelo 11 de setembro. A Lufthansa também foi, mas acaba de anunciar um lucro de 400 milhões de dólares para o ano que vem. A Varig e a TAM também reclamam da desregulamentação do setor aéreo brasileiro. Qual desregulamentação? Desregulamentação foi o que aconteceu na Europa. O resultado está aqui na minha frente, no jornal. A Ryanair oferece passagens da Itália para a Inglaterra por menos de 25 dólares. E da Itália para a França por menos de 20. Para desregulamentar de verdade, o Brasil, antes de mais nada, deveria vender os aeroportos e fechar a Infraero.

A PanAm faliu. A TWA faliu. A Swissair faliu. Por que a Varig ou a TAM não podem falir? É a regra básica da economia: empresas mal administradas fecham as portas. Espero que as aeromoças da Varig estejam satisfeitas comigo.

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