Estadão
Malditos sejais, ó mentirosos, negadores, defraudadores, vigaristas,
intrujões, chupistas, tartufos e embusteiros! Que a peste negra vos
cubra de feridas pútridas, que vossas línguas mentirosas sequem e que
água alguma vos dessedente, que vossas mentiras, patranhas, fraudes,
lérias e marandubas se transformem em cobras peçonhentas que se
enrosquem em vossos pescoços, que entrem por vossos rabos, rabiotes e
fundilhos e lá depositem venenosos ovos que vos depauperem em diarreias
torrenciais e devastadoras. Que vossas línguas se atrofiem em asquerosos
sapos e bichos pustulentos que vos impedirão de beijar vossas amantes,
barregãs e micheteiras que vos recebem nos lupanares de Brasília, nos
prostíbulos mentais onde viveis, refocilando-se nas delícias da
roubalheira.
Malditos sejais, ladrões, gatunos, ratoneiros,
trabuqueiros dos dinheiros públicos, dos quais agadanhais, expropriais
mais da metade de todos os orçamentos, deixando viadutos no ar, pontes
no nada, esgotos a céu aberto e crianças mortas de fome, mortas de tudo.
Que
a maldição de todas as pragas do Egito e do Deuteronômio vos impeça de
comer os frutos de vossas fazendas escravistas, que não possais degustar
o pão de vossos fornos, nem o milho de vossos campos, e que vossas
amantes vos traiam e vos contaminem com escabrosas doenças e repugnantes
furúnculos!
Malditos sejais, homúnculos dedicados a se infiltrar
nas brechas, nas breubas do Estado para malversar, rapinar, larapiar
desde pequenas gorjetas embolsadas, até essa doença nacional chamada
petróleo, onde vos repastais no revezamento sinistro de negociarrões com
empresas fantasmas em terrenos baldios, até a rapinagem dos mínimos
picuás dos miseráveis.
Malditas sejam as caras de pau dos
ladravazes, com seus ascorosos sorrisos, imunda honradez ostentada,
gélido cinismo, baseado na crapulosa legislação que vos protege há
quatro séculos, por compradiços juízes, repulsivos desembargadores,
fariseus que vendilham sentenças por interesses políticos, ocultados por
intrincados circunlóquios jurídicos, solenes lero-leros para compadrios
e favores aos poderosos! Que vossas togas se virem em abutres famintos
que vos devorem o fígado, acelerando vossas mortes que virão pela
ridícula sisudez esclerosada com que justificais liminares e chicanas
que liberam criminosos ricos e apodrecem pobres pretos na boca do boi de
nossas prisões!
Malditos sejais, burocratas, sicofantas,
enfiados na máquina pública, emperrando-a e sugando migalhas do Estado
com voracidade e gula! Tomara que sejais devorados pelos carunchos que
rastejam nos processos empoeirados da burocracia que impede o País de
andar! Que a poeira dos arquivos mortos vos sufoque e envenene como o
trigo roxo dos ratos!
Malditas sejam também as "consciências
virginais", as mentes "puras"; malditos os alienados e covardes,
malditos os limpos, os não culpados, os indiferentes, que se acham
superiores aos que sofrem e pecam; malditos intelectuais silenciosos que
ficam agarrados em seus dogmas, que se "escandalizam" com os horrores,
mas nada fazem, diante dos erros óbvios que clamam por condenações.
Maldito aquele que culpou os "brancos de olhos azuis" pela crise
econômica mundial. Malditos os que só pensam em dividir os brasileiros
entre "nós" e "eles". Maldita seja a técnica de vitimização que funciona
bem para ditadores que se dizem sempre 'defensores do povo' - suas
vítimas. Malditos os que condenam o passado, se eles são o passado.
Malditos
os radicais de cervejaria, os radicais de enfermaria e os radicais de
estrebaria. Os frívolos, os loucos e os burros. Uns bebem e falam em
revolução; outros alucinam e os terceiros zurram.
Maldita seja
também a indiferença narcisista do déspota sindicalista que renegou a
herança bendita que recebeu e que se esconde nas crises para voltar um
dia como pai da pátria. Que gordos carrapatos infectem sua barba de
estadista deslumbrado.
Malditos também os que desejam trazer de
volta a irresponsabilidade fiscal, malditos anjos da cara suja, malditos
os que inventaram as gorjetas de milhões, malditos espertos fugitivos
da cassação, anatematizados e desgraçados sejam os que levam dólares na
cueca e, mais que eles, os que levam dólares às Bahamas, malditos os que
usam o "amor ao povo" para justificar suas ambições fracassadas,
malditos bolchevistas que agora são arroz de festa de intelectuais mal
informados; malditos sejam, pois neles há o desejo de fazer regredir o
Brasil para o velho Atraso pustulento, em nome de suas ideologias
infantis!
Se eles prevalecerem, voltará o dragão da Inflação, com
sete cabeças e dez chifres e sete coroas em cada cabeça e a prostituta
do Atraso virá montada nele, berrando todas as blasfêmias, vestida de
vermelho, segurando uma taça cheia de abominações. E ela, a besta do
Atraso, estará bêbada com o sangue dos pobres e em sua testa estará
escrito: "Mãe de todas as meretrizes e Mãe de todos os ladrões que
paralisam nosso país".
Só nos resta isso: maldizer.
Portanto:
que a peste negra vos devore a alma, políticos canalhas, que vossos
cabelos com brilhantina vos cubram de uma gosma repulsiva, que vossas
gravatas bregas vos enforquem, que os arcanjos vingadores vos exterminem
para sempre!
(*) Não pude escrever o artigo da semana por doença
(nada grave, inimigos meus), mas me lembrei de outro texto da época do
"mensalão" e achei por bem republicá-lo, pois cabe perfeitamente nestes
tempos de "petrolão".
Entrevista:O Estado inteligente
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