Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, junho 21, 2006

Requintes de crueldade (Por Lucia Hippolito)Blog do NOBLAT

A necessidade de cumprir a cláusula de barreira nas eleições de
outubro está deixando muito partido preocupado e muito dirigente
partidário sem dormir.

Eleição é momento de alto grau de incerteza. Com a entrada em vigor
da cláusula de barreira, esta incerteza aumentou exponencialmente. E
aumentou também a paranóia.

No próximo sábado, o PT formaliza a candidatura de Lula à reeleição,
e é esperada a adesão formal de PSB e PCdoB.

Mas nos Estados, a briga entre os três partidos é feroz. Por isso, em
que pesem as juras de amor do presidente do PT, Ricardo

Berzoini, e do coordenador do programa de governo, Marco Aurélio
Garcia, no PCdoB e no PSB dirigentes suspeitam de que o PT não está
tão interessado assim em ajudá-los.

E por que isso? O raciocínio é cruel, mas de indiscutível
pragmatismo. Se não conseguirem ultrapassar a barreira dos 5%, PSB e
PCdoB perdem as condições básicas de sobrevivência independente e
serão obrigados a procurar abrigo num partido maior. E que partido
maior receberia de braços abertos socialistas e comunistas do B?
Naturalmente, o PT.

E se isto vier a ocorrer, não será evento inédito na história da
esquerda brasileira.

Recordar é viver. Em maio de 1947, eram tempos de Guerra Fria, do
confronto ideológico entre União Soviética e Estados Unidos.

Depois de longo processo, o TSE cancelou o registro do Partido
Comunista Brasileiro, o velho Partidão. Mas restou o problema: o que
fazer com os mandatos do senador Luís Carlos Prestes, dos 14
deputados federais, das centenas de deputados estaduais e vereadores
eleitos pelo Partidão pelo Brasil afora?

A decisão ficou a cargo do Congresso: se votasse pela cassação dos
mandatos, a degola seria geral. Se votasse pela manutenção dos
mandatos até as eleições de 1950, haveria tempo para que os
parlamentares comunistas pudessem encontrar abrigo em outras legendas.

Em outubro de 47 o Senado vota a favor da cassação dos mandatos. E em
janeiro de 1948 a Câmara confirma a decisão.

Nos partidos da época, o PSD, partido conservador e maior bancada da
Câmara, votou majoritariamente a favor da cassação dos mandatos, o
que era esperado. A UDN, liberal, mas que continha em suas fileiras a
Esquerda Democrática (que depois fundou o Partido Socialista
Brasileiro), rachou.

Mas o PTB, Partido Trabalhista Brasileiro, que disputava ferozmente
com o Partidão o controle do movimento sindical e a liderança da
esquerda, foi fundamental para a cassação dos mandatos dos
parlamentares comunistas.

Em que pesem as juras de amor das lideranças trabalhistas no
Congresso, boa parte dos dirigentes do partido entendia que o temor
do comunismo deveria aumentar, como condição para o crescimento do
PTB. Assim, os petebistas instigaram o medo do comunismo nos partidos
liberais e conservadores, mas votaram divididos na Câmara.

Depois de consumada a cassação dos mandatos dos parlamentares
comunistas, adivinhem onde foram se abrigar aqueles comunistas que
decidiram continuar na política partidária? No PTB, naturalmente.

Cruel, mas indiscutivelmente pragmático.
Enviada por: Ricardo Noblat

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