Principal manchete de ontem do "International Herald Tribune", o mais
global dos jornais, propriedade do "New York Times: "Airbus deve
requerer ajuda estatal".
Para quem não sabe, trata-se do fabricante europeu de aviões, a
megacompanhia que disputa o mercado com outro gigante, a Boeing,
norte-americana.
A Airbus não está quebrando. Está é com dificuldades com uma aeronave
de médio porte, a A-350. Bom, lida a manchete, fui aos colunistas de
economia da grande mídia internacional na certeza de que eles,
unanimemente, esculhambariam a pretensão, diriam que esse "regresso
ao populismo" é inaceitável, os mais extremados veriam até um dedo do
coronel Hugo Chávez na história. Nada. Nem poderia haver, aliás,
posto que tanto a Airbus como a Boeing já recebem subsídios de seus
respectivos governos, o que é tema de uma azeda disputa comercial
entre os EUA e a Europa.
Não, caro leitor, não vou, a esta altura, defender uma mão do governo
para a Varig. Parece tarde demais. Mas está na hora de o Brasil parar
de ser fundamentalista nessa questão -como em tantas outras.
Já houve época em que qualquer empresário com conexões no governo
recebia sua graninha do BNDES ou por outros caminhos. Hoje, falar em
ajuda do governo é pecado mortal (o que não impede vantagens por
baixo do pano para os bem conectados, como é da vida em qualquer
lugar do mundo).
Ajudar empresas não é uma questão ideológica. Deve ser analisada caso
a caso. Salvar algumas pode ser mais "capitalista" do que deixá-las
morrer. Imperdoável mesmo é permitir que uma empresa como a Varig
sangre em praça pública, desrespeitando seus passageiros e seus
funcionários, tenham ou não estes culpa no cartório.
crossi@uol.com.br