O GLOBO
O Brasil amanhece hoje sonhando com o ouro olímpico. Se o Rio for indicado como sede das Olimpíadas, o impacto econômico será de uma dimensão que pode resgatar a cidade do seu longo processo de perda de importância econômica. E se não for escolhido? Bom, agora que o diagnóstico está feito, os projetos identificados, os cálculos realizados, por que não tocá-los?
Os economistas Sérgio Murashima, consultor da Fundação Instituto de Administração da USP, e Roberto Brito de Carvalho, da PUC de Campinas, acham que a mágica das Olimpíadas é criar o fator propulsor, a força que empurra todos os governantes e empresários na mesma direção; reorganiza as prioridades; cria uma pressão do tempo. Isso faz diferença.
Conversei com os dois ontem na Globonews para avaliar esse impacto econômico.
São autores de estudos que pegam aspectos diferentes da questão econômica das Olimpíadas. Murashima fez um estudo a pedido do Ministério dos Esportes.
Roberto Brito fez uma análise sobre o que aconteceu com o turismo nas cidades que foram sede de Jogos.
— Em todas, houve um aumento do turismo de forma permanente. Ele sobe na época dos Jogos, e durante todos aqueles dias, a cidade será exposta. Isso acaba atraindo turistas de forma permanente. Só não aconteceu em Sidney porque em 2001 houve a crise do 11 de Setembro que reduziu o turismo no mundo inteiro — diz Roberto.
Murashima diz que há impactos imediatos e de segundo grau em ser escolhido: — O primeiro é a união das instâncias governamentais.
Agora, o município, o estado e o governo federal estão juntos. Segundo, os empresários reorganizam seus projetos numa mesma direção.
No estudo que fez, Murashima diz que os investimentos feitos para os Jogos têm efeitos multiplicadores — em termos de produção, valor adicionado, massa salarial, emprego, arrecadação de impostos — tão grandes que interessam ao país todo.
— As obras feitas no Rio vão comprar produtos e serviços de outras cidades, portanto, o benefício será nacional — explicou.
Mas será que não há muito mito em torno do assunto? Afinal, no Pan foi aquela festa e depois verificou-se que a cidade estava com uma coleção de espaços vazios.
Houve desperdício de dinheiro.
Mais de R$ 80 milhões foram gastos no Maria Lenk, hoje subutilizado; R$ 14 milhões foram gastos no velódromo que ninguém sabe hoje para que serve, e o Parque Aquático Júlio De Lamare vai ser demolido.
Roberto disse que todos os casos bons que encontrou nos seus estudos sobre cidades-sede mostram que foi preciso pensar em obras multiuso com planejamento para depois dos Jogos. Há riscos de elefantes brancos, claro, mas até os erros de cidades que foram sede podem orientar um planejamento mais bem feito para a fase posterior aos Jogos.
Há quem diga que é investimento demais, afinal, das cidades que disputam hoje, o Rio foi a que propôs um volume maior de recursos: US$ 14 bilhões, ou cerca de R$ 24 bilhões. Para efeito de comparação: a refinaria Abreu e Lima, no Nordeste, está saindo quase pelo mesmo preço. O cálculo da refinaria da Petrobras com a PDVSA, inicialmente orçada em R$ 8 bilhões, pode chegar aos mesmos R$ 24 bi.
Murashima diz que pelas contas que fez, a dinâmica econômica que esses investimentos vão gerar em termos de criação de emprego, atividade econômica, retorno direto e indireto fará com que em alguns anos haja o retorno para os cofres públicos de 97% do dinheiro investido.
O Rio tem problemas tão imensos quanto sua beleza.
São grandes, mas não insolúveis.
A expectativa da escolha da cidade como sede de Olimpíadas produziu uma sensação gostosa de que é possível superar os problemas porque todos vão trabalhar juntos, porque as prioridades serão as conhecidas e elas serão atacadas.
E se perdermos? Bom, nunca houve tanta chance como agora, mas se o Rio perder ele pode fazer uma de duas coisas: desmontar a festa e chorar as mágoas achando que nunca vai se reerguer, ou juntar todos esses diagnósticos, estudos, projetos e trabalhar na direção da solução dos problemas.
A cidade que um dia foi capital, que é a porta de entrada do Brasil, que tem beleza comemorada no mundo inteiro sabe o que precisa.
Não tem vocação para pólo industrial. Isso é melhor esquecer.
O Rio é software e não hardware. É turismo, logística, cultura, informação, serviços.
Precisa de investimentos em infraestrutura de transporte que façam com que chegar ao Rio e se deslocar por ele seja uma tarefa menos penosa. Por isso, é tão sedutor olhar os projetos de um Galeão modernizado, metrôs em outros pontos da cidade, ônibus de alta capacidade em faixas exclusivas.
Precisa enfrentar o problema da violência, claro, o mais difícil dos gargalos. Tem que tirar proveito da sua zona portuária cheia de beleza e história. De Buenos Aires a Belém, todas as cidades conseguem revitalizar a área do porto, menos o Rio. E mais do que nunca o Rio precisa de resgate do meio ambiente.
Das nossas irracionalidades, a maior é estragar tanta beleza com poluição.
Uma Olimpíada é um fator indutor. Se for com ela será mais fácil. Mas não pode ser o único caminho que nos levará ao pódio com o qual sonhamos.
Entrevista:O Estado inteligente
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