Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, julho 01, 2008

Uso político



EDITORIAL
O Globo
1/7/2008

Entre outros atributos do programa Bolsa Família pode-se destacar o mapeamento da população brasileira para o qual as políticas de inclusão social devem ser direcionadas. Hoje sabe-se exatamente quem são e onde vivem as famílias com insuficiência de renda. Tal atributo deveria ser considerado um instrumento poderoso para levar essas famílias a dependerem menos da ajuda financeira oficial. O êxito do programa somente estará confirmado quando os números absoluto e relativo dos dependentes do auxílio governamental diminuir.

Era o que já deveria estar ocorrendo graças à conjuntura econômica, que vem ampliando consideravelmente a oferta de empregos formais, mesmo para pessoas sem qualificação profissional. Segundo o IBGE, a população desocupada nas seis regiões metropolitanas do país em maio havia diminuído 20,4% em comparação a igual mês do ano passado. O crescimento do emprego se verificou em todas as regiões, com destaque para a construção civil. Em algumas localidades, as empreiteiras e companhias construtoras disputam profissionais entre si, o que tem proporcionado aumentos salariais bem acima da inflação para os trabalhadores - uma das razões para a aceleração da alta média de preços nos índices medidos pela Fundação Getúlio Vargas.

Desde dezembro de 2004 a população ocupada aumentou a uma média mensal de 2,9%, enquanto a população economicamente ativa cresceu a um ritmo de 1,9%. O resultado dessa diferença é que o índice de desemprego em maio de 2008 nas maiores regiões metropolitanas do país caiu para 7,9%, um dos mais baixos para o período desde que essa nova série foi iniciada pelo IBGE, em 2002. Mesmo assim não caiu o contingente de cerca de 45 milhões de pessoas beneficiárias do Bolsa Família. A redução da pobreza absoluta no Brasil não depende apenas do crescimento econômico e do número de empregos formais gerados. Mas, como o Bolsa Família - uma consolidação de outros programas nos mesmos moldes - não é propriamente uma iniciativa nova, já deveria estar na fase da colheita, com redução gradativa dos dependentes de auxílio financeiro. Entretanto, com sua atual configuração será eternizado pelos que desejam usá-lo politicamente para se manter no poder.

É o que se pode deduzir da decisão do governo de, a poucos meses das eleições municipais, reajustar em 8% o valor do auxílio, com a justificativa de que a inflação dos alimentos tem prejudicado os mais pobres. O diagnóstico é correto, mas a melhor saída para esses brasileiros é o governo emancipá-los, e não mantê-los dependentes da esmola assistencialista.

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